domingo, 25 de outubro de 2009

Jornal de Ontem...

Precisamos pensar...

"Governo amplia poder nas empresas, mostra estudo
A pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a Vale pode ser apenas o começo de uma fase de crescente poder do governo sobre as grandes empresas brasileiras. Um estudo recém-concluído revela os laços de dependência cada vez maiores dos principais grupos nacionais em relação ao Estado: entre as 30 maiores multinacionais brasileiras (ranking de 2008), quase todas têm empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e 20 têm participação do Estado - ou são estatais, ou têm parcelas de capital detidas pelo BNDESPar ou por fundos de pensão de estatais, fortemente influenciados pelo governo.


Incluindo-se as que têm associação indireta com o Estado - como parcerias com a Petrobras, ou que fazem parte de grupos com participação estatal em outras de suas empresas -, aquele total chega a 25 das 30 maiores multinacionais, com nomes bem conhecidos como Petrobras, Vale, Ipiranga, Usiminas, Embraer, Perdigão, Bertin e Klabin. Apenas 5 das 30 não têm no momento nenhuma associação (excluindo empréstimos) com o Estado - AmBev, TAM, Globo, Copersucar e Natura.


O estudo foi realizado por Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que vê no avanço do Estado nas principais empresas brasileiras uma clara estratégia de formação de grandes grupos para competir nos mercados globais. "Eu não sou contra esse tipo de política industrial, mas ainda há vários dilemas e contradições que precisam ser resolvidos", diz Almeida, cujo trabalho trata justamente dos problemas da atual política industrial.


Embora duas empresas - Gerdau Aços Longos e CSN - tenham participação do governo inferior a 5%, na maioria delas a parcela é superior a 10%, e em quatro é maior do que 20% (Perdigão, Bertin, Fibria e Klabin). Como o ranking é de 2008, a Perdigão, que se fundiu com a Sadia, e a Bertin (frigorífico), que se fundiu com a JBS, aparecem separadamente. Em ambos, a participação do Estado se manteve depois da fusão. Esses são exemplos de negócios que o governo ajudou a costurar e que mostram a estrutura de concentração da política industrial.


O ranking tem como critério as empresas brasileiras de maior faturamento, que tenham operação no exterior. Almeida nota que três outras empresas, que não estão entre as 30 maiores naquele critério, são normalmente citadas entre as grandes multinacionais brasileiras: Marcopolo (fabricante de ônibus), Weg (motores) e Coteminas (têxtil). As três têm empréstimos recentes do BNDES, a Coteminas tem participações de fundos de pensão e do BNDESPar, e a Marcopolo, do Centrus (fundo de pensão do Banco Central).


O estudo mostra, por outro lado, que as múltis brasileiras estão decolando no mercado global. De 2000 a 2007, o estoque de investimento direto brasileiro no resto do mundo - reflexo da atividade das multinacionais do País - aumentou de US$ 51,9 bilhões para US$ 129,8 bilhões, num avanço de US$ 77,9 bilhões. Esse salto se compara com a expansão de apenas US$ 13,4 bilhões daquele estoque durante os 20 anos de 1980 a 2000 - de US$ 38,5 bilhões para US$ 51,9 bilhões.


Mas, para tocar sua ambiciosa política industrial, o governo está fazendo uma gigantesca injeção de recursos nos bancos estatais, concentrada no BNDES. Segundo números do Banco Central, o saldo dos empréstimos do Tesouro Nacional a essas instituições saiu de zero em 2005 para R$ 145,4 bilhões em agosto de 2009. Desse total, R$ 137,5 bilhões foram para o BNDES. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo."

Manifesto de Intelectuais!

Contra a violência do agronegócio e a criminalização das lutas sociais22 de outubro de 2009

As grandes redes de televisão repetiram à exaustão, há algumas semanas, imagens da ocupação realizada por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em terras que seriam de propriedade do Sucocítrico Cutrale, no interior de São Paulo. A mídia foi taxativa em classificar a derrubada de alguns pés de laranja como ato de vandalismo.

Uma informação essencial, no entanto, foi omitida: a de que a titularidade das terras da empresa é contestada pelo Incra e pela Justiça. Trata-se de uma grande área chamada Núcleo Monções, que possui cerca de 30 mil hectares. Desses 30 mil hectares, 10 mil são terras públicas reconhecidas oficialmente como devolutas e 15 mil são terras improdutivas. Ao mesmo tempo, não há nenhuma prova de que a suposta destruição de máquinas e equipamentos tenha sido obra dos sem-terra.

Na ótica dos setores dominantes, pés de laranja arrancados em protesto representam uma imagem mais chocante do que as famílias que vivem em acampamentos precários desejando produzir alimentos.

Bloquear a reforma agrária

Há um objetivo preciso nisso tudo: impedir a revisão dos índices de produtividade agrícola – cuja versão em vigor tem como base o censo agropecuário de 1975 – e viabilizar uma CPI sobre o MST. Com tal postura, o foco do debate agrário desloca-se dos responsáveis pela desigualdade e concentração para criminalizar os que lutam pelo direito do povo. A revisão dos índices evidenciaria que, apesar de todo o avanço técnico, boa parte das grandes propriedades não é tão produtiva quanto seus donos alegam e estaria, assim, disponível para a reforma agrária.

Para mascarar tal fato, está em curso um grande operativo político das classes dominantes objetivando golpear o principal movimento social brasileiro, o MST. Deste modo, prepara-se o terreno para mais uma ofensiva contra os direitos sociais da maioria da população brasileira.

O pesado operativo midiático-empresarial visa isolar e criminalizar o movimento social e enfraquecer suas bases de apoio. Sem resistências, as corporações agrícolas tentam bloquear, ainda mais severamente, a reforma agrária e impor um modelo agroexportador predatório em termos sociais e ambientais como única alternativa para a agropecuária brasileira.

Concentração fundiária

A concentração fundiária no Brasil aumentou nos últimos dez anos, conforme o Censo Agrário do IBGE. A área ocupada pelos estabelecimentos rurais maiores do que mil hectares concentra mais de 43% do espaço total, enquanto as propriedades com menos de 10 hectares ocupam menos de 2,7%. As pequenas propriedades estão definhando enquanto crescem as fronteiras agrícolas do agronegócio.

Conforme a Comissão Pastoral da Terra (CPT, 2009) os conflitos agrários do primeiro semestre deste ano seguem marcando uma situação de extrema violência contra os trabalhadores rurais. Entre janeiro e julho de 2009 foram registrados 366 conflitos, que afetaram diretamente 193.174 pessoas, ocorrendo um assassinato a cada 30 conflitos no primeiro semestre de 2009. Ao todo, foram 12 assassinatos, 44 tentativas de homicídio, 22 ameaças de morte e 6 pessoas torturadas no primeiro semestre deste ano.

Não violência

A estratégia de luta do MST sempre se caracterizou pela não violência, ainda que em um ambiente de extrema agressividade por parte dos agentes do Estado e das milícias e jagunços a serviço das corporações e do latifúndio. As ocupações objetivam pressionar os governos a realizar a reforma agrária.

É preciso uma agricultura socialmente justa, ecológica, capaz de assegurar a soberania alimentar e baseada na livre cooperação de pequenos agricultores. Isso só será conquistado com movimentos sociais fortes, apoiados pela maioria da população brasileira.

Contra a criminalização das lutas sociais

Convocamos todos os movimentos e setores comprometidos com as lutas a se engajarem em um amplo movimento contra a criminalização das lutas sociais, realizando atos e manifestações políticas que demarquem o repúdio à criminalização do MST e de todas as lutas no Brasil.

Fazendo o debate...

lá no blog do Rudá catei mais este texto, só que do Osmar Braga, continuando o debate que começamos, dè um sacada:

"Osmar Braga disse...
Caro Rudá

É muito instigante sua análise. Ela faz sentido, tendo em vista as mudanças que ocorreram nos anos 90, quando a elite, com a força e ideologia neoliberal, dá as cartas do jogo político no Brasil, estabelecendo uma institucionalidade política que produz uma nova configuração nas relações entre as classes e os grupos sociais que atuam na sociedade. O advento da questão da cidadania (neoliberral), com seus mecanismos institucionais, alteraram de forma significativa a relação entre estado e movimentos sociais,pautada agora pela lógica institucional. Isso ocorre paralelo à queda dos referenciais filosóficos e políticos que sempre orientaram o ideário transformador dos movimentos sociais. Esse processo impactou os movimentos sociais e as organizações populares de maneira geral, modificando as formas, as bandeiras e os conteúdos da luta social. Numa sociedade em que o estado não é mais caracterizado como ditador, autoritário, violento; onde há espaço para o diálogo, mesmo que isso não dê em nada, as relações sociais são pautadas por uma dinâmica mais formal, orientada por mecanismos legais e institucionais, colocando novos desafios na relação estado e sociedade organizada. Outro fator é que, após a conquista do governo pelas forças ditas populares, com Lula na presidência, consolidou uma relação fundada na luta institucional,via os mecanismos que o estado neoliberal criou, neutralizando fortemente outras formas e bandeiras de luta, pois ela trouxe a despolitização da questão social. Porém, não podemos dizer que todo o movimento social está preso à dinâmica e aos ditames neoliberais. Há, na minha opinião, um movimento de retomada do ideário ttransformador, onde se resgata a atualidade do projeto novo de sociedade, com formas novas de luta e novas organizações, que fogem dos modelos da década de 80.O movimento Assmbléia Popular~,do qual fazem parte dezenas de entidades popualres, movimentos, ONGs proressistas, não seria um exemplo disso? O que falta é essas formas e movimentos ganharem força e redescobrirem os valores e as bandeiras que as une e sustenta frente aos novos desafios políticos e sociais."

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Fazendo o Debate...

A partir do texto postado anteriormente levantei alguns questionamentos ao Prof Rudá Ricci - o autor do texto -, que me trouxe resposta interessante e que nos guia ao bom debate. Posto meus questionamento e sua resposta retirada do seu blog!

"Olá prof. Rudá,
O MST está se isolando, e se está ele faz bem em se isolar? Quais são os mecanismos e percursos que demonstram este isolacionismo?

Os espaços construído ao longo dos anos no Estado, mas, principalmente, no governo Lula, não deveriam ser ocupados? Mas pensando para além do Estado, qual seria o papel dos movimentos sociais quando sua pauta coaduna com a pauta da governo?

O que significaria o fim da era dos movimentos sociais? Existe espaço ideal para sua ação? Qual seria esta arena?

Agradecido pelo texto!
abraços professor!"

a resposta do Professor:

"Agradeço os dois comentários e tento responder em conjunto:
a) o papel das ongs, neste momento, é de construir uma rede de formação para o controle social;
b) a sociedade civil deve ocupar os espaços do Estado, mas com o objetivo de reformatá-lo, à luz de seu ideário de transparência e controle social. O que vemos é uma mera ocupação de espaço a partir da lógica de Estado burocrático, de tradição lusitana (personalismo + especialização temática), sem foco no ser humano, mas nas rotinas específicas. Lembremos: a experiência da sociedade civil é de rede, não de hierarquias funcionais;
c)o MST não está se isolando porque quer. Mas é fato que se isola porque as outras forças perderam a combatividade e a inovação;
d) o isolamento é demonstrado pela ofensiva da esquerda, do governo Lula e até jornalistas de esquerda (ver algumas notas neste meu blog);
e) a pauta dos movimentos sociais deveria ser a da reforma democrática do Estado. Por exemplo: fim do Senado (instalação da estrutura unicameral); implantação da lei de responsabilidade social e responsabilização de governantes que não melhorarem indicadores sociais; voto distrital misto e implantação do recall; instalação de conselhos de direitos no interior do parlamento; oficialização e exigência do orçamento participativo em todo ciclo orçamentário público; criação de ampla rede de escolas da cidadania para formação técnica de gestores sociais; implantação de observatórios sociais (como o existente em Maringá); implantação da educação fiscal em toda rede de ensino público; implantação de gestão participativa em rede; adoção de mecanismos de controle sobre a execução orçamentária com participação da sociedade civil.
São algumas possibilidades."

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Catando Texto...

Recebi este texto do bom companheiro Guru, e compartilho com vocês, depois trarei as perguntas que fiz ao autor do texto. O Rudá Ricci tem um bom blog, que também deve ser acessado, são bons os questionamentos elaborados pelo autor. Boa leitura!


O FIM DA ERA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS BRASILEIROS
Por RUDÁ RICCI
Sociólogo, 47, Doutor em Ciências Sociais, do Fórum Brasil de Orçamento e do Observatório Internacional da Democracia Participativa. Blog: rudaricci.blogspot.com

Dentre muitas divergências há um consenso entre estudiosos dos movimentos sociais: todos são formados a partir de espaços não consolidados das estruturas e organizações sociais. Ocorre que nos anos 90 muitos movimentos sociais se institucionalizaram. Diversos ensaios recentes revelam essa forte institucionalização e segmentação política e social nas experiências associativas, além de avaliar o processo de participação social nas experiências de gestão participativa (como orçamento participativo). Mesmo na América Latina, vários estudos (como o de Christian Adel Mirza, “Movimientos sociales y sistemas políticos en América Latina, publicado pelo Clacso), relacionam nitidamente o antes conceito de movimentos sociais (não institucionalizado) com o Estado e instituições políticas dos países do continente. Fica a dúvida: a Era dos Movimentos Sociais teria terminado no Brasil? A fragmentação social em curso e a ampliação da participação da sociedade civil no interior do aparelho de Estado teriam reformatado o que antes denominávamos de movimentos sociais? Os movimentos sociais brasileiros são representações ou parte integrante de anéis burocráticos de elaboração de políticas públicas? Segundo o IBGE, 75% dos municípios brasileiros adotam alguma modalidade de participação da sociedade civil na determinação de prioridades orçamentárias na área social. Motivados ou premidos pelas exigências constitucionais, pelos convênios com órgãos federais (dados importantes fornecidos pelo IBGE revelam que governadores e ministérios lideram a criação de conselhos de gestão pública paritários, muito acima das ações de prefeitos brasileiros) e do Ministério Público, os prefeitos de todo país institucionalizam (e, muitas vezes, traduzem ou interpretam a partir de seu ideário peculiar) vários mecanismos de gestão participativa na deliberação de políticas locais. Se localidades rurais, conselhos de desenvolvimento rural sustentável, de meio ambiente ou de bacias hidrográficas pululam. Se localidades urbanas, conselhos de saúde, assistência social e direitos da criança e adolescente proliferam. Onde estariam os movimentos sociais, que antes exigiam inclusão social e fim da marginalização política? Estão todos nesses conselhos e novas estruturas de gestão pública. Ao ingressarem no mundo e lógica do Estado, poderiam construir uma nova institucionalidade pública. Porém, foram engolidos pela lógica da burocracia pública. A multiplicação das conferências de direitos não foram incorporadas às peças orçamentárias da maioria dos entes federativos. Não alteramos a lógica de funcionamento e de execução orçamentária efetivamente. O aumento da participação da sociedade civil na gestão pública também não ensejou qualquer mudança na estrutura burocrática altamente verticalizada e especializada do Estado brasileiro nas três esferas executivas. Enfim, o ideário anti-institucionalista dos movimentos sociais brasileiros dos anos 80 converteu-se rapidamente ao ideário do Estado que atacavam. Talvez por inconsistência teórica e programática, pautados pela mera negação ou sentimento de injustiça. Mas, talvez, por excesso de partidarização dos movimentos sociais. Nos anos 80, não por coincidência, Frei Betto sugeria que sindicatos, partidos e organizações sociais eram ferramentas do que denominava de movimento popular. Tal concepção fomentou a criação da ANAMPOS, organização nacional que articulava sindicatos de oposição à estrutura oficial do sindicalismo nacional e movimentos sociais. O mundo sindical achou seu caminho alternativo ao ideário dos movimentos sociais e se afastou da ANAMPOS. E os movimentos sociais? Nos anos 90 se atiraram na tarefa de formalizar as estruturas de gestão pública participativa conquistadas na Constituição de 1988. Mas, a partir das estruturas criadas e com a eleição de Lula (o ícone do ideário dos anos 80) suas lideranças subsumiram à lógica do Estado. E não conseguiram mais se livrar dela. Basta analisarmos as pautas das conferências nacionais de direitos. São, com raríssimas exceções, a agenda definida pelo governo federal. Compreendo que esse é o cenário montado para o drama que se desenrola nos últimos dias sobre o futuro do MST. Evidentemente, a organização popular mais poderosa do país, a única que ainda consegue gerar mobilizações sociais de massa, está se isolando politicamente. Isola-se a partir do governo que ajudou a desenhar, mesmo que apenas no seu esboço mais geral. E se isola porque seus aliados de antes estão imersos nos escaninhos do Estado.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Catando Texto...

Busquei este na Agência Carta Maior!

É preciso reconceituar o jornalismo

Não faz mais sentido chamar de Jornalismo o que fazem as corporações de mídia. Quem se preocupa com o lucro em primeiro lugar não é uma instituição jornalística. Quando uma empresa passa a ter como principal meta o lucro, essa empresa pode ser tudo, menos uma instituição jornalística.

Marcelo Salles

Não faz mais nenhum sentido chamar de Jornalismo o que fazem as corporações de mídia. Quem se preocupa com o lucro em primeiro lugar não é uma instituição jornalística. Não pode ser. Quando uma empresa passa a ter como principal meta o lucro, essa empresa pode ser tudo, menos uma instituição jornalística. E aí não importa a quantidade de estrutura e dinheiro disponível, pois a prática jornalística é de outra natureza.

Exemplo: eu posso passar uma semana no Complexo do Alemão com um lápis e um bloco de papel. Posso chegar até lá de ônibus. Posso bater o texto num computador barato. Mesmo assim, se a publicação para onde escrevo for jornalística, vou ter mais condições de me aproximar da realidade do que uma matéria veiculada pelas corporações de mídia.
Essas podem dispor de toda a grana do mundo, de carro com motorista, dos gravadores mais caros, das melhores rotativas, de alta tiragem e de toda a publicidade que o dinheiro pode comprar. No entanto, se não forem instituições jornalísticas, elas dificilmente se aproximarão da realidade da favela, isso quando não a distorcem completamente.

Existem outros exemplos para além da questão da favela. É o caso dos venenos produzidos pelas Monsantos da vida, que nunca são denunciados pelas corporações de mídia. Ou da retomada dos movimentos de libertação na América Latina, vistos como “ditatoriais”; a perseguição aos movimentos sociais e aos trabalhadores em geral; a eterna criminalização da política, de modo a manter as instituições públicas apequenadas frente ao poder privado. Enfim, você pode olhar sob qualquer ponto de vista que não vai enxergar Jornalismo.

Isso precisa ficar bem claro. Claro como a luz do dia. Pra que as corporações pareçam ridículas quando proclamarem delírios do tipo: “somos democráticas”, “únicas com capacidade de fazer jornalismo”, “imparciais” e por aí vai. Fazer Jornalismo não tem esse mistério todo. Em síntese é você contar uma história. Essa história deve ter alguns critérios que justifiquem sua publicação. Alguns deles aprendemos nas faculdades e são válidos; outros são ensinados, mas devem ser vistos com cautela. E outros simplesmente ignorados. Mas, no fundo, o importante é ser fiel ao juramento do jornalista profissional:

“A Comunicação é uma missão social. Por isto, juro respeitar o público, combatendo todas as formas de preconceito e discriminação, valorizando os seres humanos em sua singularidade e na sua luta por dignidade”.

Essa frase, quase uma declaração de amor, não é minimamente observada pelas corporações de mídia. Vejamos: elas não têm espírito de missão, não respeitam nada, nem as leis, estimulam o preconceito, discriminam setores inteiros da sociedade, violam os direitos humanos e não sabem o significado da palavra “dignidade”.

Mas por que o Jornalismo é tão importante para uma sociedade? Porque hoje, devido ao avanço tecnológico dos meios de comunicação – são praticamente onipresentes nas sociedades contemporâneas –, a mídia assume uma posição privilegiada no tocante à produção de subjetividades. Ou seja, a mídia, mais do que outras instituições, adquire enorme poder de produzir e reproduzir modos de sentir, agir e viver. Claro que somos afetados por outras instituições poderosas, como Família, Escola, Forças Armadas, Igreja, entre outras, mas a mídia é a única que atravessa todas as outras.

Fica claro, portanto, que uma sociedade será melhor ou pior dependendo dos equipamentos midiáticos nela inseridas. Se forem instituições jornalísticas sólidas e competentes, mais informação, dignidade, mais direitos humanos, mais cidadania, mais respeito, mais democracia. Se forem corporações pautadas pelo lucro, ou seja, entidades não-jornalísticas, menos informação, menos dignidade, menos direitos humanos, menos cidadania, menos respeito, menos democracia.

É por isso que eu sempre digo aqui, neste modesto, porém Jornalístico espaço: as corporações de mídia precisam ser destruídas, para o bem da humanidade! Em seu lugar vamos construir instituições jornalísticas. Ponto.

Marcelo Salles, jornalista, é coordenador da Caros Amigos no Rio de Janeiro e editor do www.fazendomedia.com.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Catando Texto...

Com as devidas proporções e caracterizações temporais e regionais onde estão inseridos os nossos partidos com debates relevantes ao rumo de sociedade que devemos querer, pude catar este texto de serventia para reflexão do seus rumos, seja ele o PT, o PV ou o PSoL, por analogias nem muito grosseiras. Boa leitura! O texto é do correspondete internacional da Agência Carta Maior, o Flávio Aguiar:

http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4448&boletim_id=600&componente_id=10095

Catando Texto...

Bisbilhotando por aí, encontrei este texto que nos mostra um bom caminho a seguir. Texto do Professor Emir Sader colocando o debate sobre a Reforma Tributária no patamar que ela merece. Façamos bom uso!



09/10/2009

Quem paga, quem recebe?

Para um governo que pretende combater as injustiças sociais – de que ainda somos os campeões mundiais, apesar das significativas melhorias no governo atual -, a reforma tributária é questão central. O governo não é um produtor de riquezas. Para dispor de recursos para políticas sociais, para induzir o crescimento econômico, para qualificar os serviços do Estado, depende da arrecadação de impostos. Quando perde o debate sobre a reforma fiscal – ou não dá o debate sobre ela –, um governo fica acuado para desenvolver políticas que diminuam os efeitos concentradores de renda e expropriadores de direitos do mercado.

No entanto, a esquerda não assume a importância do tema e se deixa levar, via de regra, por armadilhas que se tornaram elementos consensuais na opinião pública e que inviabilizam o papel histórico do Estado de transferir recursos dos setores mais ricos aos mais pobres, minorando as desigualdades sociais.

A primeira armadilha é a que propaga que quanto menos imposto o Estado cobra, melhor para cada uma das pessoas. Acena-se com a proporção dos impostos no PIB, alerta-se contra o papel expropriador do Estado, alega-se que se está tirando não sei quantos dias ao mês do cidadão para fomentar gastos – implícita ou explicitamente – caracterizados como desperdícios.

Uma vez o Estado caracterizado como problema e não como solução – visão inerente ao neoliberalismo, que vem de Reagan e Thatcher, para ser incorporada por quase todas as forças políticas, ansiosas por ganhar o apoio, especialmente da classe média, que se sente vítima das tributações -, abre-se o campo para a linha de defesa contra políticas tributárias.

O Brasil, com o caudal de desigualdades acumuladas, possui um sistema tributário regressivo que, em lugar de redistribuir renda, contribui para sua concentração. As grandes empresas, mais particularmente até as do sistema bancário e financeiro, mas todas elas em seu conjunto, pagam pouco ou quase nada de impostos. (A mais bem remunera profissão no campo do direito é o direito tributário, que se resume nas artimanhas para burlar o fisco.) É a cidadania em geral que paga impostos e fornece ao Estado grande parte da sua arrecadação, descaracterizando já a idéia de que a tributação devesse servir para transferir renda de quem tem mais para quem tem menos.

Por outro lado, a maior parte da tributação vem dos impostos indiretos e não dos diretos. Isto é, ao tributar igualmente a todos pelo consumo, por exemplo, da cerveja, o Estado está tornando iguais os que são sumamente desiguais, fazendo com que todos paguem os mesmos impostos no consumo, independentemente do seu nível de renda. Os impostos à riqueza, incluído aquele à herança – são irrisórios, enquanto os que atingem a massa da população tendem a ser implacáveis.

Além disso, tende-se a aceitar que seria difícil ou quase impossível promover a transparência do orçamento – mecanismo pelo qual ficaria claro que os pobres e o conjunto da cidadania são fonte de transferência de recursos para que o Estado pague suas dívidas ao capital financeiro, através do superávit fiscal -, alegando-se que os orçamentos seriam fictícios, porque só sua execução final permitiria compreende realmente seus mecanismos e outros argumentos supostamente técnicos, que pretendem tirar do olhar da cidadania e dos movimentos populares organizados, a possibilidade de controle social sobre o Estado.

Mas o argumento de fundo, que permite toda essa injustiça fiscal é a criminalização do Estado, que só serviria para tungar os cidadãos, não fornecendo serviços de qualidade como contrapartida. Tudo o que se deve esperar do Estado viria recortar direitos e renda dos cidadãos. O candidato que promete baixar os impostos, tende a se tornar líder das pesquisas eleitorais. Por sua vez, as isenções fiscais fazem com que o Estado arrecada metade do que deveria. Todos querem pagar menos, não importa que tipo de dessolidarização sociais implementa, que tipos de direitos estão sento recortados com isenções e sonegações fiscais.

A Lei Rouanet é dos tantos exemplos disso. Ao invés de pagar impostos e usar parte dos seus lucros para o trabalho de marketing das empresas, se deixa de fazer o primeiro, usando esses recursos para promover o nome da empresa. Enquanto isso o Ministério da Cultura luta, até aqui infrutiferamente, para que seu orçamento chegue a 1%, para dispor de mais recursos para promover políticas publicas de cultura. As empresas, por sua vez, tendem a financiar eventos culturais de duvidoso nível artístico – tantas vezes comedinhas erótico-sentimentais com um casalzinho que faz simultaneamente novelas na televisão -, em detrimento do apoio a outros, de qualidade cultural, que o governo poderia e deveria fomentar.

Tudo isso alimenta a crise fiscal do Estado, que fica dependendo do ritmo de crescimento econômico e dos impostos, em geral pagos pelos que vivem da renda do trabalho – e não dos que vivem dos lucros do capital – para poder dispor de recursos que alimentem sua função essencial de promover a justiça social.

Discutir reforma tributária no Brasil incita os grandes empresários a esfregar as mãos de excitação, achando que vão pagar ainda menos impostos. O governo, na sua era Palocci, perdeu a oportunidade de fazer a reforma fiscal socialmente justa que o Brasil precisa, aprovando um engendro entre tributação nacional, estadual e municipal, que nada muda no quadro de injustiça no país e de dificuldades financeiras dos governos para atacar a desigualdade social – principal lacra que ainda se abate sobre nós.

Devemos lutar para que o tema da reforma tributária esteja no centro dos debates da campanha presidencial, intrinsecamente associado ao do papel do Estado e ao das políticas sociais. Se não os ministros da economia tenderão a brecar as políticas sociais, brandindo o argumento de que “seria justo, mas não há recursos”.

A solução desse nó deveria vir das políticas de orçamento participativo, que permitem à cidadania perceber claramente quem paga e quem recebe recursos do Estado, que função de repasse, de que setor social para que outro, está desempenhando o Estado. Se está minorando as desigualdades sociais, fazendo com que quem tem mais pague mais, para diminuir as carências da massa da população, ou se está se somando à financeirização da economia, transferindo, via tributação, recursos do mundo do trabalho para o mundo da especulação.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Luto

Hoje é o Dia das Crianças. É o dia em que celebramos a inocência, a ingenuidade, o lúdico, o presente de possibilidades, mas também é o dia em que nos nutrimos de esperança. E foi com este espírito que convidei minha irmã, de 12 anos, para passar a semana comigo. Para que eu me reoxigenasse de esperança e motivação.

Ontem, agora pouco, decidi buscar meu irmão, que estava terminando mais uma jornada de jogos de xadrez, para levá-lo junto com minha irmã e uma prima a uma pizzaria em Natal, e de lá quando cheguei me reservei em meu quarto, onde fui assistir a um filme antigo, e que há muito estava guardado entre meus DVD's. O filme era A Noite do Lápis, filme argentino que conta este episódio da ditadura militar argentina, no qual vários estudantes, líderes juvenis, são presos e torturados. Entre as cenas, muita doçura misturada com crueldade, ingenuidade misturada com esperança...

Após o filme recebo a notícia e o motivo desta postagem: morre Oiran. Oiran era anarquista, militante do Movimento Passe-Livre, sempre chegava às reuniões na sua bicicleta. Militante ativo, fazia suas atividades independente de deliberações e processos maiores, queria ver acontecer. Sonho que tinha em um sistema não-opressor. Percorria a cidade na sua bicicleta, não somente pela necessidade, mas para propagandear um outro modo de vida que fizéssemos tomar medidas mais sustentáveis de sociedade, e para isto utilizava o próprio corpo, e este era sua arma e foi parte de sua vida.

Morre Oiran, vive a necessidade de se continuar lutando por uma mobilidade urbana mais justa e solidária, que torne viável e sustentável o deslocamento, para que nossa sociedade possa sonhar com um mundo sem barreiras e impedimentos, na qual querer chegar no horizonte que se enxerga não seja uma utopia, mas um desejo de vivenciar a existência possível.

Oiran parecia perceber os horizontes e as muitas amarras, mas, mesmo assim ou por isto mesmo, decidiu quebrar correntes, só que em uma destas não pôde mais voltar, seu destino é o mesmo a que somos determinados. Alguns escolhem o caminho mais fácil, outros continuam a sonhar e construir as condições para que todos possamos provar do horizonte que nos é apresentado. Fica viva a luta do companheiro Oiran! Fica viva a luta dos jovens assassinados no Regime Militar Argentino! Fica vivo o sonho dos ingênuos, assim como a esperança dos inocentes! A ciranda não pode parar...

Oiran estará sempre presente na roda, entre aqueles que constroem um mundo mais justo!

Oiran faleceu quando retornava de viagem em sua bicicleta.


Dennys Lucas

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Catando Texto...

Passando no blog do professor Edmílson Lopes colhi este texto que deixa dicas para o debate do uso da avaliação dos docentes feitas pelos dicentes na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Espero que aqueles atenados no Movimento Estudantil desta instituição, ou mesmo de outras, possam travar este debate do modo mais sensível. Vamos ao texto!



Qual é a da diretoria da ADURN?
Juro que não entendi. Li com atenção a notícia (clique aí e leia a matéria toda) publicada no site da Associação dos Docentes da UFRN (ADURN) e fiquei cá no meu canto matutando: a diretoria foi solicitar ao Reitor o quê exatamente no que diz respeito à avaliação dos docentes feita pelos alunos? Leia abaixo um trecho da matéria:

"Em seguida, foi tratada a questão da avaliação docente pelo discente, já que a Diretoria tem sido bastante questionada sobre os efeitos dessa avaliação na sala de aula e no trabalho do professor. O Diretor de Política Sindical, Wellington Duarte, asseverou que é necessário um debate mais profundo não apenas sobre a forma e o conteúdo do processo avaliativo, mas também sobre a relação entre essa avaliação e a progressão funcional dos docentes. "

Ok. Vamos discutir o assunto. Discutir é bom, é necessário sempre. Mas, e essa é uma leve suspeita que me vem à cabeça, será que esse posicionamento da diretoria da entidade não joga água no moinho daqueles que querem diminuir ou desqualificar a avaliação feita pelos discentes? Ora, não estou afirmando que a avaliação discente é sempre, e em todas as situações, a melhor tradução do ensino produzido. Muito pelo contrário! Pode ser inclusive o caminho para o tão propalado "pacto de mediocridade". Mas não se pode negar que esse tipo de avaliação impacta positivamente a atividade docente e pode ser tomada como um dado para pensar tanto as práticas pedagógicas quanto a ascensão funcional.

Certamente existem quesitos que merecem um maior aprofundamento. O que fazer, então? Acho que existem pontos na avaliação dos alunos que podem e devem ser levados em conta na progressão funcional (por que não?), como é o caso das faltas dos professores. Outros, muito genéricos, como a avaliação geral do desempenho do professor, precisariam ser analisados com maior cautela.

Há, sem dúvidas, um debate a ser feito sobre a avaliação do trabalho docente pelos discentes. Mas, para ter conseqüências positivas, tal discussão não pode ser balizada pela reação defensiva e corporativista que parece guiar a direção da entidade dos professores da UFRN.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Catando Texto...

Passeando para ocupar minha noite, encontrei este texto no bom blog do Luiz Carlos Azenha, Vi o Mundo, catei e reproduzo-o aqui, espero que façam bom uso, e passem lá para conferir os bons textos...



Até o próximo "oportunismo"

Atualizado em 03 de outubro de 2009 às 12:18 | Publicado em 03 de outubro de 2009 às 12:08

por Luiz Carlos Azenha

Eu ouço isso desde os anos 50, quando ainda nem tinha nascido: a solução está na educação. Sem educação o Brasil não vai a lugar algum. Concordo.

Mas também já ouvi esse argumento usado para tentar desmerecer outros investimentos.

Escrevendo em O Globo, a Miriam Leitão traz de volta o "há quem diga" que o dinheiro a ser gasto com as Olimpíadas do Rio de Janeiro seria melhor gasto se investido em educação.

Da mesma forma que o Ali Kamel, no discurso contra as cotas raciais, diz que em vez de promovê-las o governo federal deveria investir em educação básica que beneficiasse tanto negros quanto brancos.

À primeira vista parecem argumentos louváveis. Até que alguém, na prática, tenta fazer alguma coisa em favor da educação. Leonel Brizola no Rio de Janeiro, por exemplo, se esforçou para expandir o ensino básico de qualidade a todas as crianças. Foi ferozmente combatido pelas Organizações Globo. O governo Lula, que promoveu uma notável expansão das escolas técnicas e universidades federais, foi ferozmente combatido pelas Organizações Globo. Só escapou de maiores críticas por ter financiado o PróUni, que é uma tremenda transferência de renda do Estado para as universidades privadas patrocinadoras das Organizações Globo.

Todos os avanços sociais patrocinados pelos governos trabalhistas brasileiros foram ferozmente combatidos pela elite: das leis trabalhistas de Getúlio ao Bolsa Família. As leis de Getúlio eram "inspiradas em Mussolini". O Bolsa Família, arma eleitoral para sustentar vagabundo.

Eu aceito que usem o argumento da "prioridade na educação", sim. Desde que seja vinculado à origem do dinheiro: que tal um imposto sobre as fortunas ou sobre o faturamento dos bancos exclusivamente investido em educação?

Ah, mas aí não vale. Aí eles escondem o argumento em defesa da educação básica de qualidade. Até o próximo "oportunismo".

domingo, 4 de outubro de 2009

Catando Texto...

Esta semana participei ouvinte de um debate sobre o Pré-Sal, lá no curso de Direito, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na qual vi posições claras e outras tímidas. Creio que não devemos ser tímidos neste debate, pois alguns "maus brasileiros" não tem timidez na hora de expor seu egoísmo usurpador de sonhos de milhões de brasileiros, por isto, publico texto muito importante neste debate, do professor Carlos Lessa. Boa leitrua!


O pré-sal e os maus brasileiros
Artigo publicado no jornal Valor Econômico

O desempenho da economia brasileira indica, neste último trimestre, a superação das piores dimensões da crise. Parte da mídia, saudosa dos tempos de dominação neoliberal, prepara o discurso contra a neoestatização. Execra a tonalidade dominante da uma nova política petroleira, que propõe a ampliação do controle nacional sobre o Eldorado azul do pré-sal, e lista variados argumentos a favor da prevalência do regime de concessões às petroleiras mundiais. Adverte que o País deve extrair o máximo de petróleo possível, alegando preocupação de que se desenvolvam tecnologias alternativas com novas fontes energéticas e sinalizando a progressiva redução dos "desperdícios" no uso de combustíveis fósseis.

Como o petróleo é, obviamente, não-renovável, sublinham como forte preocupação sua futura desvalorização, apesar de a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) ter declarado que "até 2050 temos um bom cenário, porque os custos do pré-sal ficam abaixo de US$ 40 o barril". O petróleo é "ouro negro", tanto que já recuperou o patamar entre US$ 65 e US$ 75 o barril, após ter atingido mais de US$ 130 o barril, com a especulação desenfreada em 2008. Não há risco de o petróleo do pré-sal brasileiro virar um "mico" mais além do próximo meio século. É previsível que a Petrobras desenvolva tecnologia de extração e operação de campos petroleiros, reduzindo seus custos de produção, enquanto a pressão internacional dos consumidores de petróleo empurre para cima o preço do barril, principalmente se houver uma retomada do crescimento mundial. Com o petróleo são obtidos mais de 3 mil produtos, entre os quais os usos energéticos são as utilizações mais amplas e menos nobres deste recurso natural.

Se o Brasil construir uma economia de petróleo, sem se converter em país exportador de petróleo, o pré-sal, combinado com a utilização de nossas fontes hídricas para a geração de eletricidade, dará sustentação às forças produtivas industriais, agropecuárias e de serviços. Em futuro remoto, podemos dispor de tecnologia para outras fontes de energia sem a necessidade de destruir e desarticular as bases produtivas internas, dependentes do petróleo. Não devemos ser exportadores de petróleo cru, a não ser em circunstâncias comerciais específicas, singulares e de alta conveniência para nossos planos de investimento e desenvolvimento. A parcimônia de manter nossas reservas provadas ao abrigo da fúria predatória das petroleiras-exportadoras é uma excelente aplicação financeira e uma salvaguarda de nossa economia futura.

Devemos vigiar excessos internos de consumo de petróleo. Não tem sentido o Brasil construir termelétricas quando dispomos de importante potencial hídrico. Devemos melhorar nossa logística de transporte ampliando a participação das modalidades ferroviária e aquaviária, que usam menos petróleo por tonelada-quilômetro. É particularmente importante o transporte pessoal intrametropolitano e intraurbano utilizando modalidades sobre trilhos consumidoras de energia elétrica; o ônibus se restringiria à coleta periférica, alimentadora de eixos de metrô e ferrovias urbanas. Veículos de luxo com alta potência, desperdiçadores de petróleo, devem sofrer forte penalização tributária.

É importante que o Brasil faça arranjos empresariais que minimizem desperdício de energia. É um erro institucional estratégico permitir a competição predatória entre o não renovável e o renovável. No âmbito do governo federal, deveria ser estudada uma empresa que combinasse a Petrobras com a Eletrobrás e com as atividades nucleares nacionais. A "Energibrás" poderia, sem perder mercado, projetar melhor estrutura de preços de variantes energéticas. A fusão das duas grandes estatais diluiria a excessiva participação estrangeira, em termos percentuais, no capital da Petrobras.

Faço parte de uma geração que leu o "Poço do Visconde", publicado em 1938. Neste livro, Monteiro Lobato, conta que a turma da Dona Benta encontrou petróleo no Sítio do Picapau Amarelo, deixando claro ao leitor infanto-juvenil que o Brasil tinha petróleo. Participamos, quase todos muito jovens, da campanha "O Petróleo é Nosso". Vimos a Petrobras nascer, crescer e dar origem ao moderno setor brasileiro de máquinas e equipamentos. As refinarias garantiram o abastecimento interno. As equipes de engenheiros, geólogos e operários encontraram petróleo interno e se deslocaram para o oceano, descobriram o óleo pesado da Bacia de Campos; em parceria com universidades brasileiras, aperfeiçoaram e dominaram a tecnologia de produção em águas profundas. Com audácia empresarial e excepcional persistência em pesquisa geológica, desvelaram o pré-sal que, no momento, já duplicou nossas reservas com óleo leve e valioso. As estimativas conservadoras vão de prováveis 40 bilhões à euforia de 100 bilhões de barris no pré-sal. Confirmada a euforia, o Brasil terá a quarta maior reserva de petróleo do planeta.

Monteiro Lobato ilustrava os "maus brasileiros" como os que duvidavam, no início dos anos 50, que o Brasil tivesse petróleo ou que pudesse ter uma empresa nacional de refino e pesquisa de petróleo. No Poço do Visconde, esses brasileiros tinham orelhas de burro de papelão e, nas ilustrações, eram mostrados desfilando sob vaias da população. Apesar do imenso sucesso da Petrobras, os neoliberais da atualidade recomendam concessões às petroleiras estrangeiras como a fórmula para explorar o pré-sal com eficiência! Os netos de minha geração irão vaiar estes neoentreguistas.

Carlos Lessa é professor emérito de economia brasileira da UFRJ.

Saudação!

Morre a Lutadora Mercedes Sosa. Todos os lutadores da América Latina estão mais tristes hoje, mas suas músicas empolgarão muitas lutas ainda pelo Mundo, mas principalmente entre os irmãos latino-americanos...

Em breve, postarei vídeos lembrando da Obra desta Cantora sensacional!

Canción con Todos!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Catando Texto...

Circulando por aí, passei na agência de notícias Carta Maior e catei este texto elucidativo para os mais desavisados...


O homem no centro da crise hondurenha: quem é Manuel Zelaya?

Larissa Ramina (*)

Em 28 de junho, Manuel Zelaya fora expulso de seu país, que deixara vestindo pijamas. Destituído por um golpe de Estado, amplamente condenado pela comunidade internacional, refugiou-se na vizinha Nicarágua. Após 3 meses de tentativas frustradas, atravessou clandestinamente as fronteiras hondurenhas e abrigou-se na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, no dia 21 de setembro. Seu retorno ocorre em um momento crucial, na véspera da reunião da Assembléia Geral da ONU, que deverá reunir em Nova Iorque chefes de Estado de todo o planeta.

O governo golpista de Roberto Micheletti apressou-se em adotar medidas militares, dispersando violentamente os cerca de 4000 partidários de Zelaya reunidos no local. Um toque de recolher foi imposto na capital, e os aeroportos, escolas e comércio foram fechados. Água, luz e telefone da Embaixada foram cortados. A OEA adotou resolução pedindo a recondução do líder deposto ao poder e o respeito de sua integridade física. O governo brasileiro solicitou a intervenção do Conselho de Segurança da ONU para garantir a segurança da Embaixada.

Mas afinal, quem é Manuel Zelaya, o homem no centro da crise hondurenha?

Candidato conservador às eleições de 2006, Zelaya transformou-se após o golpe em herói popular, sendo tratado pela oposição como esquerdista e comunista. Todavia, o homem de chapéu estilo “cowboy”, camisa desabotoada, botas texanas e bigode marcante não é facilmente descrito.

Filho de poderoso fazendeiro, fora eleito em 2005 pelo Partido Nacional Hondurenho, de direita, com um programa também de centro-direita, num cenário em que poucas famílias da elite controlavam a economia local, e onde a esquerda havia sido escanteada do poder. Apesar disso, Zelaya promoveu reformas econômicas e sociais consideradas de esquerda, custando-lhe a perda do apoio da elite.

Diante de uma urgência financeira para concretizar reformas sociais no país em que 70% da população vive abaixo da linha da miséria, Zelaya buscou ajuda no setor privado, que firmemente lhe virou as costas. O Banco Mundial, por sua vez, ofereceu-lhe uma ajuda irrisória de U$ 10 milhões. O empréstimo relevante, de U$ 132 milhões, veio de Hugo Chávez.

A aliança com a Venezuela, sacramentada na adesão à Alternativa Bolivariana para as Américas, marcou a espetacular virada de Zelaya à esquerda, ilustrada pelo aumento de 65% do salário mínimo hondurenho, que passou de U$189 para U$ 289. Esse fato marcou o rompimento definitivo com o conservadorismo local. Não obstante, Zelaya foi o primeiro chefe de Estado hondurenho a visitar Cuba desde 1959, onde se desculpou publicamente com Fidel Castro pelo fato de seu país ter servido de base norte-americana para a luta contra a guerrilha; aproximou-se de Daniel Ortega na Nicarágua e protestou contra a ingerência dos EUA na Venezuela e na Bolívia. Para coroar sua posição, declarou na Assembléia Geral da ONU que o capitalismo estaria “devorando os seres humanos”.

Em seguida, isolado pelo patronato e por seu próprio partido, e já começando a inquietar os EUA, Manuel Zelaya insistiu no que chamou de “revolução pacífica” para a instauração de uma “democracia participativa”, convocando um referendo para consultar acerca da possibilidade de modificar a Constituição e permitir a reeleição do chefe de Estado. Essa empreitada, já iniciada por outros chefes de Estado na América Latina, entre os quais Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa e também o conservador Álvaro Uribe, foi considerada ilegal pela Corte suprema hondurenha, apoiada por alguns membros do Congresso, por parte do Exército e pelos meios empresariais. Zelaya foi preso pelos militares na manhã do referendo, no dia 28 de junho de 2009. No Brasil, encontrou o apoio que lhe permitiu retornar a seu país. Porque o Brasil e não Venezuela? A resposta é estratégica, e o Presidente brasileiro tem reputação na Europa e nos EUA muito melhor do que o Presidente venezuelano.

O golpe de Estado dirigiu-se a um Presidente que fora eleito por um partido de direita, e que no decorrer do mandato deu uma guinada à esquerda. Micheletti anunciou que Zelaya seria preso e julgado por traição, caso entrasse em Honduras. O homem no centro da crise fora considerado, portanto, um traidor: um traidor da elite hondurenha.

Larissa Ramina, Doutora em Direito Internacional pela USP e Professora da UniBrasil

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Lá do blog do prof. Edmílson catei mais este texto sobre a crise em Honduras. O interessante é perceber o quão seletiva é nossa mídia...


Os erros, ou nem tanto
Jânio de Freitas

A situação de Manuel Zelaya na embaixada depende muito dos pressupostos políticos de quem a considere

OS GOLPISTAS DE Honduras cometeram seus dois primeiros erros táticos. Um, ao empurrar os diplomatas acomodados na Organização dos Estados Americanos, como representantes dos nossos países, para a possível admissão de alguma atitude em defesa da entidade.Considerados os seus fins, os golpistas vinham agindo com bastante habilidade tática, e por isso mantendo os países adversários do golpe entre acuados e omissos. Mas barrar a entrada de funcionários da OEA, que preparariam a visita de uma comissão de diplomatas assim impedida também, soa como um despertador na organização caída em letargia desde o fim da Guerra Fria.

Um erro seguido de outro é, em geral, tomado como indício de perda de controle. Mas tanto pode ser isso quanto o oposto: a atitude mal pensada por excesso de confiança.As duas interpretações cabem, a gosto do freguês, no segundo erro dos golpistas hondurenhos, simultâneo ao outro. É o ultimato dado ao governo Lula para definir em dez dias (agora oito), nos termos das convenções internacionais, a situação em que o derrubado Manuel Zelaya se abriga na embaixada brasileira. Ultimato acompanhado da ameaça de cassação das imunidades e outros direitos da embaixada, o que implica ameaças piores.

Em termos políticos, Lula está posto sob pressão ainda maior do que a OEA. É o seu prestígio internacional, joia maior das suas atuais vaidades, que está posto em xeque pelos hondurenhos do golpe.O risco de uma situação ainda mais complicada é real, caso a OEA se mantenha em reuniões, consultas, sondagens, emissários inúteis e outras habituais protelações. E o Conselho de Segurança da ONU, já enrolado com o Irã e a Coreia do Norte, ainda ache que o impasse entre Brasil e Honduras vale apenas uma nota. Posição do conselho (e, nele, em especial dos Estados Unidos) que sugere uma subjacente represália à insistência do Brasil em integrá-lo, e em ver esse poder mundial reformado e compartilhado por mais países.

A situação de Zelaya na embaixada depende muito dos pressupostos políticos de quem a considere. Os opositores ao governo Lula, os de visão mais convencional e conservadora, são incessantes na opinião de que Zelaya fazer política de dentro da embaixada “é um absurdo”, “transformou a embaixada na casa da mãe joana”, e por aí. Mas se Zelaya é o presidente legítimo de Honduras e está na embaixada apenas na condição de hóspede, como considera o governo Lula, então o absurdo estaria em tolher-lhe a palavra e o direito de usá-la em defesa da causa democrática. Censura que, de sua parte, o governo golpista aprofundou agora, cassando por oposição ao golpe a Rádio Globo, claro que a de lá, e um canal de TV. Seria o suficiente para avolumar-se uma campanha contra os novos inimigos declarados da liberdade de informação e opinião. Mas o antigolpismo é seletivo, como ensinou a imorredoura doutrina da Guerra Fria. Então, o que podia ser o terceiro erro tático é, na prática, só mais uma atitude lógica, do ponto de vista do poder golpista.

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Foi assim que, por volta das 4h20 da madruga, encontrei este bom texto no Balaio do Kotscho... socializo com vocês!


Crise em Honduras e campanha antecipada: festival de hipocrisia

Venho notando
nos últimos dias que um festival de hipocrisia está assolando o Brasil. Já tivemos o Febeapa (Festival de Besteiras que Assola o País), imortal criação do Stanislaw Ponte Preta, e agora é só trocar besteiras por hipocrisia que dá na mesma.
Até agora não fiz nenhum comentário sobre a grave crise que se prolonga em Honduras e envolve seriamente o Brasil porque é tão grande a confusão por lá que não dá para sair por aí alegremente dizendo quem é bandido e quem é mocinho nesta história.
Se você não tem o que dizer e não consegue nem entender o que está acontecendo, vai explicar o quê? Melhor é ficar calado.
Mas, diante do que li hoje no noticiário, com todo mundo metendo o bedelho, me deu vontade de entrar no assunto só para destacar a quantidade de besteiras e de hipocrisia que se está produzindo em torno da crise naquele pequeno e desconhecido país.
Que esse Manuel Zelaya é um tremendo maluco que não merece a menor confiança de ninguém, estamos todos de acordo. Ocorre que ele foi eleito pelo povo de Honduras e derrubado de pijama pelos militares porque queria fazer uma consulta popular para poder se candidatar à reeleição.
Qual é o crime? Por que no mundo inteiro a reeleição é considerada democrática, mas só não pode existir em Honduras, na Venezuela e nos seus aliados bolivarianos? Por que Fernando Henrique Cardoso não foi chamado de golpista ao mudar a Constituição para disputar mais um mandato, utilizando métodos, digamos, pouco ortodoxos?
O Brasil, os Estados Unidos, a ONU, a OEA, todos condenaram o golpe em Honduras que derrubou Zelaya. Golpe é golpe, não tem outro nome, e o presidente eleito tinha todo o direito de lutar para voltar ao seu cargo.
Na ausência de outras crises internas, agora o governo brasileiro é criticado por abrigar o dito cujo em sua embaixada em Tegucigalpa. Queriam o que? Que o embaixador fechasse o portão e chamasse a polícia dos golpistas?
Entramos numa tremenda roubada porque esse tal de Zelaya, uma caricatura do Ratinho, não está respeitando a casa de quem lhe deu abrigo e quer botar fogo no circo escondido atrás dos muros da embaixada.
O problema é que o Brasil continua lutando por uma saída diplomática e pacífica, mas está cada vez mais pendurado na brocha no momento em que os organismos internacionais nada fazem para resolver o conflito.
Hipocrisia é chamar de ditador o celerado presidente venezuelano Hugo Chaves, também eleito e reeleito, quando fecha arbitrariamente emissoras de rádio e televisão de oposição, e achar bonito quando o “presidente de facto”, Roberto Micheletti, faz a mesma coisa em Honduras.
Assim como é hipocrisia ficar a toda hora denunciando o presidente Lula de antecipar a campanha eleitoral e fazer exatamente a mesma coisa. O que é feio para uns, fica bonito nos outros, é natural. Ou as viagens que os outros candidatos presidenciais fazem pelo país, assim como Dilma, são apenas de turismo, para conhecer melhor o Brasil?
Serra, Aécio, Ciro, Marina, todos eles estão toda semana viajando, procurando cavar seu espaço para cativar o eleitorado com vistas a 2010. É direito deles, qual o crime? Pois nesta segunda-feira, no Rio, onde está em plena campanha, minha amiga Marina Silva achou bonito criticar a “antecipação do debate político sobre a eleição do próximo ano”.
No domingo passado, cercada pelos óculos escuros de Gabeira e Sirkis, Marina foi fazer o que caminhando com faixas e bandeiras pelas praias cariocas? Tomar sorvete, catar conchinhas, ou não estaria dando início à sua campanha presidencial também?
Diz a notícia da Folha: “Marina aprovou a avaliação do presidente do PV no Estado do Rio, vereador Alfredo Sirkis, que culpou o presidente Lula pela discussão eleitoral antecipada”. Que maravilha! O valente ex-guerrilheiro e ex-secretário de Cesar Maia agora é o guru de Marina.
Por que nós temos este costume de não chamar as coisas pelos nomes certos e só achar errado o que fazem os que não pensam como nós?
Por acaso foi também por culpa de Lula que o governador José Serra resolveu aumentar em 43% a verba de publicidade do seu governo este ano?
Seria apenas para dar mais trabalho às agências de publicidade e ocupar os espaços ociosos dos intervalos comerciais porque o povo não é capaz de enxergar a grande obra que ele vem fazendo em São Paulo?
Cada um pode enxergar a paisagem como quiser, já escrevi aqui outro dia, mas um pouco de semancol nas declarações não faria mal a ninguém. Estão exagerando na hipocrisia.