domingo, 26 de setembro de 2010

A MIDIA COMERCIAL EM GUERRA CONTRA LULA E DILMA

Leonardo Boff é sujeito bastante conhecido nos movimentos sociais e cristãos da teologia da libertação, eleitor de Marina - até onde as fofocas ao meu ouvido chegou -, e conjugador das melhores aspirações. Leia texto sobre o que se passa:

A MIDIA COMERCIAL EM GUERRA CONTRA LULA E DILMA

Leonardo Boff*

Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso” pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o “Brasil Nunca Mais” onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.

Esta história de vida, me avaliza fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de idéias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa.

Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando vêem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública.

São os donos do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja, em que se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem deste povo. Mais que informar e fornecer material para a discussão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.

Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido à mais alta autoridade do país, ao Presidente Lula. Nele vêem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.

Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.

Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma) “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e não contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo, Jeca Tatu, negou seus direitos, arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)”.

Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles têm pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascendente como Lula.

Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidene de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.

Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados de onde vem Lula e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e de “fazedores de cabeça” do povo.

Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palavra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.

O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceitual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros.

De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa se fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, a melhorar de vida, enfim.

Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão social e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome.

Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.

O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, o fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil.

Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela Veja faz questão de não ver, protagonista de mudanças sociais, não somente com referência à terra, mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.

O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e no fundo, retrógrado e velhista? Ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes?

Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das má vontade deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.

*Teólogo, filósofo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Bar ruim é lindo, bicho

Bar ruim é lindo, bicho
de Antonio Prata



Boteco de João Werner


Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de cento e cinqüenta anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de cento e cinqüenta anos, mas tudo bem.)

No bar ruim que ando freqüentando ultimamente o proletariado atende por Betão – é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando resolver aí quinhentos anos de história.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.

– Ô Betão, traz mais uma pra a gente – eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa linda que é o Brasil.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte dessa coisa linda que é o Brasil, por isso vamos a bares ruins, que têm mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gâteau e não tem frango à passarinho ou carne-de-sol com macaxeira, que são os pratos tradicionais da nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gâteau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne-de-sol, uma lágrima imediatamente desponta em nossos olhos, meio de canto, meio escondida. Quando um de nós, meio intelectual, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectuais, meio de esquerda, freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.

O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e, um belo dia, a gente chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e, principalmente, universitárias mais ou menos gostosas. Aí a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.

Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantêm o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam cinqüenta por cento o preço de tudo. (Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão Brasil, tão raiz.

Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda em nosso país. A cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelos Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gâteau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda que, como eu, por questões ideológicas, preferem frango à passarinho e carne-de-sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca, mas é como se diz lá no Nordeste, e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é bem mais assim Câmara Cascudo, saca?).

– Ô Betão, vê uma cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

“Voto contra a Homofobia, defendendo a Cidadania”

Este é o mote da campanha interessantíssima da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ALGBTT), chamando a responsabilidade, saindo do armário e levantando suas bandeiras nas ruas.

É por isto, que voto em Bernardo 13012, um Deputado Estadual do PT contra a Homofobia!

A Residência produzindo idéias!

Olha o texto de um estudante da residência universitária da ufrn, campus II. Um texto para reflexão, fruto de vários debates que estamos travando lá. Fiquei bastante feliz em ler, pois me fez recordar das várias conversas que tivemos por lá. Que bom está rendendo frutos e fazendo o rio correr... boa leitura:


"Os novos Letrados, igualdade formal, argumento de inclusão e outras falácias nas universidades

Por Josivaldo de Sousa Soares - Residente Universitário, 5º período de Direito/UFRN


O discurso opressor da igualdade formal consubstanciado nos termos do decantado artigo 5º da Constituição cidadã - ―todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza‖ - reflete a igualdade fria e formal da Lei, que os liberais utilizaram para extinguir os valores do Estado absoluto e despótico, em função do poder que eles gozavam na sociedade do século XVIII: o capital; Duzentos anos depois, mesmo com a crise do Estado Liberal e ascensão do Estado Social, o mesmo discurso, ainda é usado, dessa vez, como impedimento a uma igualdade material, esta consolidada pelos valores etéreos de justiça. Os defensores da igualdade de conteúdo formal repudiam o conceito de discriminação positiva, isto é, aquela destinada a suprir a situação de desvantagem imposta historicamente aos indivíduos por causa de sua origem social. A igualdade material, arcabouço das ações afirmativas, segundo Rui Barbosa é a medida da verdadeira justiça, pois esta consiste em tratar ―desigualmente os desiguais na medida de sua desigualdade‖, tendo em vista a pluralidade da sociedade brasileira.

Há, no entanto, um desequilíbrio na balança da justiça em favor de valores que instigam a barbárie da livre concorrência substituindo o moderno contrato social por uma sociedade ―pré – histórica‖, onde ―dinossauros disputam espaço com o Neandertal‖, sob aquela pretensa insígnia francesa de igualdade formal de oportunidades, proporcionado pela liberdade do ―laissez faire, laissez passer\"‖, como se a livre concorrência propiciasse a todos igualdade na batalha da ascensão social.

Infelizmente, até mesmo aqueles que conseguem diminuir a distancia abissal existente entre o mundo dos ricos e dos pobres, acreditam nessa igualdade liberal, ao ponto de clamar: ―Eu prefiro essa forma de sociedade porque é só querer, estudar, trabalhar, competir; temos chances iguais‖, assim falou o novel bom burguês.

Para o desalento da maioria não tivemos e nem temos as mesmas chances, e ainda contamos com os conflitos e os pré-julgamentos disfarçados da elite, que apesar de ser minoria no país, estranhamente, se faz como maioria nas universidades públicas, não por acaso na universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, no último vestibular (2010), apenas 12, 11% das vagas ocupadas são provenientes de escolas públicas, sem contar que na federal potiguar, já existe um esboço de ação afirmativa, intitulada de argumento de inclusão, e mesmo assim persiste o número medíocre, que a comissão do vestibular estampa nos jornais, maquiando a realidade, como se medidas consistentes estivessem em plena operacionalização para equilibrar a desproporção.

A situação torna-se mais preocupante quando fragmentamos a quantidade de alunos ingressantes por suas respectivas áreas (humanística, tecnológica e biomédica), perceber-se-á que a taxa de alunos caem assustadoramente. Quando fazemos os cálculos para os cursos historicamente burgueses que ostentam o ideário social, constataremos o absurdo de apenas 5% dos alunos terem sido discentes da rede pública de ensino. Outro fato que passa despercebido nas entrelinhas dos jornais é o quadro de evasão universitária dos egressos da escola pública e os seus motivos, estes geralmente relacionados com a falta de estrutura financeira em custear à dispendiosa vida acadêmica, a conseqüência é o abandono, ou uma graduação deficitária, aumentando as demandas do subemprego e dos ―cursinhos‖ preparatórios para concursos públicos, exatamente porque o ensino, pesquisa e extensão foram lacunosos e sem reais oportunidades.

Soma-se a conturbada vida dos estudantes de origem popular, à divergência de costumes sociais, conflitos de ideologias, que dão ensejo a um não disfarçado ―apartheid‖ classista que colocam a maioria burguesa de um lado, e a minoria operaria do outro. Daí que não se pode esquecer, o sistema de bolsas de estágios na universidade, bolsas que são endereçados aos ―alunos bons‖, decerto uma alusão aos ―homens bons‖ da época colonial, tudo aos moldes da antiga tradição do favorecimento da terra brasilis. O que transforma o processo seletivo, num jogo de cartas marcadas desconsiderando políticas afirmativas, já introduzidas nas resoluções que deveriam dar prioridade aos alunos economicamente carentes. No entanto, Sobram para esses, tão somente as famigeradas bolsas de apoio técnico, nas quais, não raras vezes nos deparamos com graduando da área tecnológica e/ou biomédica, dando expedientes por dois anos em bibliotecas, na função de arquivista ou recepcionistas.

Nesse ponto, ouviremos em coro altissonante, a maioria burguesa acadêmica defendendo a justiça distributiva aristotélica: a repartição das honras e dos bens entre os indivíduos devem ser de acordo com o mérito de cada um. Todavia, a idéia de mérito é excludente por excelência, basta pensar que num processo seletivo que almeje escolher alunos para bolsas de pesquisa, aqueles que tiverem domínio em alguma língua estrangeira terão, certamente, vantagem em relação ao concorrente que não tem tal aptidão. Mas, qual aluno oriundo de escola pública que tem ao menos o curso básico em inglês?

Os Filhos de uma classe que não precisaram enfrentar jornadas de oito horas em regime celetista, que não precisaram dividir o orçamento entre livros e alimentos, ostentam, em geral uma ideologia que acaba perpetuando o desequilíbrio social, por uma razão lógica e inteligível; são eles os mesmos que historicamente ocuparam as cátedras do poder social - no legislativo, administrativo ou judiciário - anulando de fato a representatividade da maioria, o que faz repetir-se o ciclo que se inicia na porta das universidades; seja no âmbito público ou privado, são aqueles herdeiros de uma tradição autoritária e populista, elitista e excludente - seletiva entre amigo e inimigos – e não entre certo e errado, justo ou injusto – e que continuaram ocupando cargos e chefias do poder estatal e econômico, agora letrados e graduados.

Nesse sentido, o emérito professor José Afonso da Silva afirma que o tema necessita de mais debates, ―e o motivo principal dessa ínfima discussão reside no fato de que a burguesia, cônscia de seu privilégio de classe, nunca postulou um regime de igualdade, tanto quanto reivindicara o de liberdade‖. Por isso, se faz necessário acirrar as discussões e participar do embate por políticas que visem aplicação de ―discriminação positiva― no âmbito universitário, do contrário, correremos os riscos da resignação, o risco de aceitar a falácia de aumento de vagas sem a real eficácia e aproveitamento dessas, ou qualquer ação sem a diminuição de fato das desigualdades que escalonam as classes, estas enraizada no velho e inafastável materialismo histórico.

Portanto, deve-se afastar o discurso da igualdade liberal. O Estado deve promover a igualdade material de oportunidades através de políticas públicas e leis que atentem para as especificidades dos grupos menos favorecidos economicamente, todavia, sem cair nas insidiosas armadilhas de benefícios às minorias, pois seria esquecer o pluralismo cultural brasileiro, sendo mais eficaz compensar as eventuais desigualdades de fato decorrentes do processo político econômico que cria um vale entre as classes sociais no país. Para tanto, deve-se discutir melhoramentos nos argumentos de inclusão e as divisões proporcionais de vagas para alunos carentes, estes definidos na forma da lei. Além de discutir metas para a permanência na vida acadêmica desses, do contrário condenaremos as próximas gerações às reservas mínimas de vagas nas universidades públicas e por conseqüência ao continuísmo da desigualdade de fato existentes entre as classes sociais."

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Movimento Indígena do RN reconhecido!

Olá pessoas, segue dica de blog (http://danielmunduruku.blogspot.com/2010/09/la-vem-o-amarelao.html), e matéria que coloca o movimento indígena do RN cada vez mais no cenário nacional:

domingo, 12 de setembro de 2010
Lá vem o Amarelão!
(Por Daniel Munduruku)
Desde algum tempo se diz que no Rio Grande do Norte não há mais indígenas. E também já faz tempo que disseminava esta informação durante minhas palestras para professores porque confiava nos dados fornecidos pelo órgão oficial e outros institutos. Até brincava com o fato das pessoas sempre imaginarem que um dos únicos estados brasileiros que não tem a presença de indígenas é o Rio Grande do Sul. A maioria das pessoas acreditam que lá – por conta da colonização européia forte e excludente – foram exterminados todos os indígenas. Não foi bem assim a história. De qualquer forma este sempre foi o imaginário popular.
Depois de algum tempo mudei a tônica de minha fala ao referir-me ao tema. Na verdade passei a incluir a palavra “supostamente” quando me referia à questão. Deixava subentendido que havia possibilidade de existir sim algum povo ainda “ocultado” em função das disputas de terra.
Os povos indígenas do nordeste foram os primeiros a serem “descobertos” pelos europeus. Por conta disso foram perseguidos e exterminados ao longo do processo colonizador. Quem fosse pego definindo-se como “índio” era fatalmente detonado da convivência social. Em função disso muitos grupos foram dispersados e os poucos que se mantinham vivos tinham que se “civilizar” para serem aceitos socialmente. Com isso acabavam esquecendo a própria língua, suas histórias, suas memórias ancestrais, seus rituais, cantos sagrados e crenças.
O tempo passou e o que parecia ter sido perdido no passado longínquo mostrou-se atual. Grupos inteiros estão buscando resgatar suas identidades esquecidas num movimento sociológico muito interessante e consistente. Estes grupos – povos ressurgidos, povos resistentes, para citar algumas denominações – passaram a reivindicar seus direitos históricos. Afinal, foram vítimas de uma história muito mal contada.
Estou dizendo isso porque há alguns dias atrás, enquanto participava do Encontro da Diversidade, um mega evento organizado pela Secretaria da Identidade e Diversidade (SID) do Ministério da Cultura[i], conheci Maria Ivoneide. Quem é ela? É uma indígena do Rio Grande do Norte. Ali estava a prova da existência de um povo antes negado. Ivoneide chegou-se a mim, apresentou-se. Disse que me conhecia. Fiquei lisonjeado. Argui algumas questões e fiquei sabendo que há mais de 10 anos estão pleiteando o reconhecimento de seu povo junto aos órgãos competentes. Alguns avanços já aconteceram. Nada vultoso. Um começo.
Descobri, então, que o nome de seu povo é Amarelão. Fiquei curioso. Por que este nome? A mim parecia uma invencionice. Não disse isso a ela. Apenas especulei. Ela explicou-me que o nome é oriundo de uma antiga tradição que lhes foi contada por seus velhos avós. Ela contou, então, uma história.
Segundo o costume dos antigos, os homens da comunidade – quando a noite se fazia alta – saíam floresta adentro para buscar o sol. Ficavam nessa função a noite toda e quando o dia se avizinhava voltavam e anunciavam para toda a comunidade: Lá vem o Amarelão! Lá vem o Amarelão!
Era uma referência ao sol que, àquela hora, já mostrava sua pujança.
Fiquei fascinado! Era uma história que tem tudo a ver com o pensamento mítico indígena. Senti que Ivoneide ficou feliz em me contar. Entendi o nome. É assim mesmo que os indígenas dão nomes às coisas e a si mesmos.
Ela ainda me confidenciou que antropólogos explicam o nome dizendo tratar-se de doença que descoloria a pele dos infectados. Nós dois rimos. É uma explicação racional de quem tenta explicar o inexplicável! Típico do ocidental!
O Povo Amarelão entrou no meu repertório. Rio Grande do Norte tem um povo. São cinco comunidades. Aproximadamente mil pessoas. A sociedade brasileira pode entender que não são “índios verdadeiros”. Não importa. O Amarelão (sol) sabe. Isso é que vale!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A exploração política do caso é exagerada

Um texto do Renato Janine Ribeiro colocando em termos o debate sobre as eleições e a quebra de sigiloda filha do Serra, veja aqui:
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Lembro dessa cena de Alice no País das Maravilhas quando leio o inflacionado debate sobre algo que é erradíssimo a violação do sigilo fiscal de cinco nomes do PSDB, de centenas de outras pessoas na agência Mauá da Receita e de centenas de milhares de declarações de renda vendidas na rua 25 de Março (em SP).

Mas a exploração política do caso é exagerada. Aquele que retirou a declaração de Veronica Serra não é respeitado nem pelos jornalistas. Nada nele demonstra estilo petista, embora tenha aderido ao PT logo após a vitória de Lula adesão que, pelo visto, não levou a nada.

Mas os jornalistas creem numa única afirmação dele: o episódio visaria a prejudicar José Serra (PSDB). Por que essa seleção do que merece crédito? Ainda mais levando em conta que, se alguém pode ser prejudicado, é Dilma Rousseff (PT).

Na verdade, afora o fato de que declarações de renda são vendidas na rua há anos, o que me preocupa de imediato são duas coisas. A primeira é que a imprensa abriu mão de cobrir, a sério, as eleições. O Paraná, por exemplo, vive um pleito complexo, mas os jornais apenas repetem descrições, sem explicar como uma sociedade rica tem uma política pobre.

Esse é um exemplo entre muitos. A cobertura eleitoral é função dos institutos de pesquisa, dos escândalos e, bem pouco, do trabalho dos repórteres. Isso augura mal para o futuro de uma profissão que um dia quis exercer.

O outro ponto: sem provas da ligação do detestável delito com a candidatura Dilma, o candidato que está atrás nas pesquisas quer anular na Justiça os votos dela. Se for jogo de cena para levar ao segundo turno, não é bonito, mas vá lá. Se for uma tentativa de anular 60% dos votos válidos e empossar um presidente votado por 25% dos eleitores, será um golpe fatal na nossa democracia.

Melhor seria a oposição e a imprensa que a apoia aceitarem que nas eleições se perde e se ganha, que elas não são uma guerra em que se mata o inimigo, mas uma competição em que o povo escolhe o preferido para cada cargo. E o povo não merece que se destrua a democracia, que a discussão política se reduza a uma crônica policial ou que os vários lados fiquem de birra um com o outro.

Teremos, todos nós, que construir este país, pelo resto de nossas vidas. Melhor evitar paixões e atos que tornem, depois, difícil a colaboração, pelo menos entre quem gosta do Brasil.

* Renato Janine Ribeiro é professor titular de Ética e Filosofia Política do Departamento de Filosofia da USP

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Politizar a campanha agora ou depois do primeiro turno

2 de setembro de 2010 às 20:49

por Luiz Carlos Azenha

José Serra faz o que um candidato na posição dele, em qualquer país do mundo, faria. Parece confuso? É melhor que ficar parado. Por mais que vocês, leitores, acreditem que é baixaria, considerem:

1. Para Serra, é ganhar ou ganhar. Se perder, ele será completamente detonado ou abandonado pelos próprios aliados (Aécio Neves, Geraldo Alckmin, Gilberto Kassab). É da própria natureza da política, embora pareça abominável.

2. Para os tucanos e demos, perder a eleição significa uma perspectiva de 16 anos longe do poder federal, considerando que o presidente Lula pode voltar a concorrer já em 2014. Isso é uma eternidade, em política.

Qual é o erro que PT e aliados podem cometer nessa altura do jogo? Despolitizar a campanha. Depender completa e unicamente do marketing eleitoral.

Nunca, nem mesmo nas eleições de Lula em 2002 e 2006, os movimentos sociais estiveram de tal forma unidos em torno de um candidato. Sei que a personalidade do presidente Lula é de alguém que evita os conflitos abertos. Ele prefere fazer o papel de árbitro, pairar sobre as disputas políticas.

Mas não dá para ganhar uma eleição como a que se avizinha apostando apenas na propaganda. É preciso botar o bloco na rua. De cabeça fria, sem histrionismo. Mas é preciso colocar o time em campo e dar nomes aos bois: José Serra, do PSDB, herdeiro político de Fernando Henrique Cardoso, aquele da Petrobrax, que vendeu patrimônio público a preço de banana, aliado da turma que queria acabar com o Prouni, que vivia de pires na mão diante do FMI e assim por diante.

Ou o PT politiza a campanha antes do primeiro turno por vontade própria, ou será obrigado a fazê-lo entre o primeiro e o segundo turnos. Como em 2006. Com a diferença de que em 2010 os movimentos sociais estão mais organizados e energizados para a disputa.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Consolidar a ruptura histórica operada pelo PT

30.08.10

Leonardo Boff *, no Adital

Para mim o significado maior desta eleição é consolidar a ruptura que Lula e o PT instauraram na história política brasileira. Derrotaram as elites econômico-financeiras e seu braço ideológico, a grande imprensa comercial. Notoriamente, elas sempre mantiveram o povo à margem da cidadania, feito, na dura linguagem de nosso maior historiador mulato, Capistrano de Abreu, “capado e recapado, sangrado e ressangrado”. Elas estiveram montadas no poder por quase 500 anos. Organizaram o Estado de tal forma que seus privilégios ficassem sempre salvaguradados. Por isso, segundo dados do Banco Mundial, são aquelas que, proporcionalmente, mais acumulam no mundo e se contam, política e socialmente, entre as mais atrasadas e insensíveis. São vinte mil famílias que, mais ou menos, controlam 46% de toda a riqueza nacional, sendo que 1% delas possui 44% de todas as terras. Não admira que estejamos entre os países mais desiguais do mundo, o que equivale dizer, um dos mais injustos e perversos do planeta.

Até a vitória de um filho da pobreza, Lula, a casa grande e a senzala constituíam os gonzos que sustentavam o mundo social das elites. A casa grande não permitia que a senzala descobrisse que a riqueza das elites fora construída com seu trabalho superexplorado, com seu sangue e suas vidas, feitas carvão no processo produtivo. Com alianças espertas, embaralhavam diferentemente as cartas para manter sempre o mesmo jogo e, gozadores, repetiam: “façamos nós a revolução antes que o povo a faça”. E a revolução consistia em mudar um pouco para ficar tudo como antes. Destarte, abortavam a emergência de outro sujeito histórico de poder, capaz de ocupar a cena e inaugurar um tempo moderno e menos excludente. Entretanto, contra sua vontade, irromperam redes de movimentos sociais de resistência e de autonomia. Esse poder social se canalizou em poder político até conquistar o poder de Estado.

Escândalo dos escândalos para as mentes súcubas e alinhadas aos poderes mundiais: um operário, sobrevivente da grande tribulação, representante da cultura popular, um não educado academicamente na escola dos faraós, chegar ao poder central e devolver ao povo o sentimento de dignidade, de força histórica e de ser sujeito de uma democracia republicana, onde “a coisa pública”, o social, a vida lascada do povo ganhasse centralidade. Na linha de Gandhi, Lula anunciou: “não vim para administrar, vim para cuidar; empresa eu administro, um povo vivo e sofrido eu cuido”. Linguagem inaudita e instauradora de um novo tempo na política brasileira. O “Fome Zero”, depois o “Bolsa Família”, o “Crédito Consignado”, o “Luz para Todos”, o “Minha Casa, minha Vida, o “Agricultura familiar, o “Prouni”, as “Escolas Profissionais”, entre outras iniciativas sociais permitiram que a sociedade dos lascados conhecesse o que nunca as elites econômico-financeiras lhes permitiram: um salto de qualidade. Milhões passaram da miséria sofrida à pobreza digna e laboriosa e da pobreza para a classe média. Toda sociedade se mobilizou para melhor.

Mas essa derrota infligida às elites excludentes e anti-povo, deve ser consolidada nesta eleição por uma vitória convincente para que se configure um “não retorno definitivo” e elas percam a vergonha de se sentirem povo brasileiro assim como é e não como gostariam que fosse. Terminou o longo amanhecer.

Houve três olhares sobre o Brasil. Primeiro, foi visto a partir da praia: os índios assistindo a invasão de suas terras. Segundo, foi visto a partir das caravelas: os portugueses “descobrindo/encobrindo” o Brasil. O terceiro, o Brasil ousou ver-se a si mesmo e aí começou a invenção de uma república mestiça étnica e culturalmente que hoje somos. O Brasil enfrentou ainda quatro duras invasões: a colonização que dizimou os indígenas e introduziu a escravidão; a vinda dos povos novos, os emigrantes europeus que substituíram índios e escravos; a industrialização conservadora de substituição dos anos 30 do século passado mas que criou um vigoroso mercado interno e, por fim, a globalização econômico-financeira, inserindo-nos como sócios menores.

Face a esta história tortuosa, o Brasil se mostrou resiliente, quer dizer, enfrentou estas visões e intromissões, conseguindo dar a volta por cima e aprender de suas desgraças. Agora está colhendo os frutos.

Urge derrotar aquelas forças reacionárias que se escondem atrás do candidato da oposição. Não julgo a pessoa, coisa de Deus, mas o que representa como ator social. Celso Furtado, nosso melhor pensador em economia, morreu deixando uma advertência, título de seu livro A construção interrompida (1993): “Trata-se de saber se temos um futuro como nação que conta no devir humano. Ou se prevalecerão as forças que se empenham em interromper o nosso processo histórico de formação de um Estado-Nação” (p.35). Estas não podem prevalecer. Temos condições de completar a construção do Brasil, derrotando-as com Lula e as forças que realizarão o sonho de Celso Furtado e o nosso.

[Autor de Depois de 500 anos: que Brasil queremos, Vozes (2000)].

* Teólogo, filósofo e escritor

Resposta do Companheiro Hugo Manso

"Caros

Não tenham duvidas quanto ao meu compromisso com estas e outras bandeiras historicas do nosso partido e dos movimentos sociais.

Vamos agendar reuniões,, debates, entrevistas que possam ser objeto de aprofundamento dos temas.

Vamos utilizar o blog e o horario eleitoral tambem.

saudações

Hugo Manso"

É com felicidade e ânimo que recebemos esta resposta e nos empenhamos na candidatura de Hugo Manso, nosso Senador 131!