segunda-feira, 7 de maio de 2012

Política e moral 06 de maio de 2012 | 3h 06 Fernando Henrique Cardoso - O Estado de S.Paulo Acabo de ler o mais recente livro de Alain Touraine, Carnets de Campagne (Cadernos de Campanha), sobre a campanha de François Hollande. Sem entrar no mérito das apostas políticas do autor, é admirável a persistência com que Touraine vem estudando as agruras da sociedade contemporânea como resultado da crise da "sociedade industrial". Ele refuta análises baseadas numa sociologia dos sistemas e não, como lhe parece mais apropriado, numa sociologia dos "sujeitos históricos" e dos movimentos sociais. O livro vai direto ao ponto: não é possível conceber a política apenas como uma luta entre partidos, com programas e interesses opostos, marcados por conflitos diretos entre as classes. A globalização e o predomínio do capital financeiro-especulativo terminaram por levar o confronto a uma pugna entre o mundo do lucro (como ele designa genericamente, com o risco de condenar toda forma de capitalismo) e o mundo da defesa dos direitos humanos e de um novo individualismo com responsabilidade social, temas que Touraine já tratara em 2010 no livro Após a Crise, fundamentados em outra publicação, Penser Autrement, de 2007. A ideia central está resumida na parte final de Após a Crise: ou nos abandonamos às crises, esperando a catástrofe final, ou criamos um novo tipo de vida econômica e social. Neste é preciso reviver o apelo aos direitos universais da pessoa humana à existência, à liberdade, aos pertencimentos sociais e culturais - portanto, à diversidade de identidades -, que estão sendo ameaçados pelo mundo desumano do lucro. É preciso contrapor os temas morais ao predomínio do econômico. Há uma demanda crescente de respeito por parte dos cidadãos. Estes aderem a valores não como decorrência automática de serem patrões, empregados, ricos, pobres, pertencerem a esta ou àquela organização, mas por motivos morais e culturais. Com essa perspectiva, Touraine responde categoricamente que não é com os partidos que a política ganhará outra vez legitimidade. As instituições estão petrificadas. Só os movimentos sociais e de opinião, movidos por um novo humanismo expresso por lideranças respeitadas, pode despertar a confiança perdida. Só assim haverá força capaz de se opor aos interesses institucionais do capitalismo financeiro-especulador, que transformou o lucro em motor do cotidiano. Daí a importância de novos atores, de novos "sujeitos sociais", portadores de uma visão de futuro que rejeite o statu quo. A partir daí, Touraine, sociólogo experimentado, não propõe uma prédica "moralista", mas sim novos rumos para a sociedade. Estes, no caso da França, não podem consistir numa volta à "social-democracia", ou seja, ao que representou na sociedade industrial o acesso aos bens públicos pelos trabalhadores; muito menos ao neoliberalismo gerador do consumismo que mantém o carrossel do lucro. Trata-se de fazer o mundo dos interesses ceder lugar ao mundo dos direitos e à luta contra os poderes que os recusam às populações. É preciso libertar o pensamento político da mera análise econômica. Os exemplos de insatisfação abundam, e não só na França. Vejam-se os "indignados" espanhóis, os rebeldes da Praça da Paz Celestial de Pequim ou os atores da Primavera Árabe. Falta dar-lhes objetivos políticos que, acrescento eu, criem uma nova institucionalidade, mais aberta ao individualismo responsável e à ação social direta que marcam a contemporaneidade. Por que escrevo isso aqui e agora? Porque, mutatis mutandis, também no Brasil se sentem os efeitos dessa crise. Não tanto em seus aspectos econômicos, mas porque, havendo independência relativa entre as esferas econômicas e políticas, a temática referida por Touraine está presente entre nós. Se me parece um erro reduzir o sentimento das ruas a uma crise de indignação moral, é também errado não perceber que a crise institucional bate às nossas portas e as respostas não podem ser "economicistas". A insatisfação social é difusa: é a corrupção disseminada, são as filas do SUS e seu descaso para com as pessoas, é o congestionamento do trânsito, são as cheias e os deslizamentos dos morros, são a violência e o mundo das drogas, é a morosidade da Justiça, enfim, um rosário de mal-estar cotidiano que não decorre de uma carência monetária direta - embora também haja exagero quanto ao bem-estar material da população -, mas constitui a base para manifestações de insatisfação. Por outro lado, cada vez que uma instituição, dessas que aos olhos do povo aparecem como carcomidas, reage e fala em defesa das pessoas e dos seus direitos, o alívio é grande. O Supremo Tribunal Federal, numa série de decisões recentes, é um bom exemplo. No momento em que o Brasil parece mirar no espelho retrovisor das corrupções, dos abusos e leniências das autoridades com o malfeito, corre-se o risco de crer que tudo dá no mesmo: os partidos, as instituições, as lideranças políticas, tudo estaria comprometido. É hora, portanto, para um discurso que, sem olhar para o retrovisor e sem bater boca com "o outro lado", até porque os lados estão confundidos, surja de base moral para mobilizar a população. Quem sabe, como na França, a palavra-chave seja outra vez igualdade. Na medida em que, por exemplo, se vê o Tesouro engordar o caixa das grandes empresas à custa dos contribuintes via BNDES, uma palavra por mais igualdade, até mesmo tributária, pode mobilizar. Para tal é preciso politizar o que aparece como constatação tecnocrática e denunciar os abusos usando a linguagem do povo. Está na moda falar sobre as "novas classes médias", muitas vezes com exagero. Se até agora elas vão ao embalo da ascensão social, amanhã demandarão serviços públicos melhores e poderão ser mais críticas das políticas populistas, pois são fruto de uma sociedade que é "da informação", está conectada. Crescentemente, cada um terá de dizer se está ou não de acordo com a agenda que lhe é proposta. As camadas emergentes não são prisioneiras de um status social que regule seu comportamento. Aos líderes cabe politizar o discurso, no melhor sentido, e com ele tocar a alma dos recém-vindos à participação social, não para que entrem num partido (como no passado), mas para que "tomem partido" contra tanto horror perante os céus. Isso só ocorrerá se os dirigentes forem capazes de propor uma agenda nova, com ressonância nacional, embasada em crenças e esperança. Sem a distinção entre bem e mal não há política verdadeira. É esse o desafio para quem queira renovar. SOCIÓLOGO, FOI PRESIDENTE DA REPÚBLICA
A esquerda pisca para a direita 06 de maio de 2012 Gaudêncio Torquato - O Estado de S.Paulo Não há mais como escamotear: a era dos conceitos clássicos que banhavam a política está cedendo lugar ao ciclo da personalização, cujos contornos apontam para a prevalência dos indivíduos sobre as ideias, o predomínio da forma sobre o conteúdo. As ideologias, neste início da segunda década do século 21, bifurcam-se na encruzilhada dos desafios de nações às voltas com profunda crise econômica. O continente europeu, berço da civilização democrática, é o cenário mais visível dessa mudança. Lá a esquerda desloca seu eixo piscando para a direita, atenuando as cores do seu antigo discurso. Já não eleva ao alto do mastro a bandeira da "propriedade coletiva dos meios de produção". Nem a provável vitória de François Hollande, hoje, na eleição presidencial francesa, significará a entronização do pavilhão vermelho no Palácio do Eliseu. O moderado líder finca pé na justiça social, escopo central dos partidos de esquerda, mas deixa ver a inclinação à Terceira Via, mescla de elementos do socialismo e do liberalismo, criada por Tony Blair (1997-2007), a partir do Reino Unido, e endossada pelo primeiro-ministro alemão Gerhard Schröder (1998-2005). O estudioso de linguagem política Damon Mayaffre (Estado, 29/4), ao constatar tal fato, registra que o empobrecimento do discurso, particularmente na França e no Reino Unido, é um fenômeno que ocorre há 50 anos. No velho discurso podia-se ler um acervo composto por conceitos como liberdade, igualdade, democracia, capitalismo, socialismo. Hoje países democráticos, centrais e periféricos, entre os quais o Brasil, usam esses substantivos sem muita convicção. Recorde-se que a esquerda começou a redesenhar seu ideário após o esfacelamento do comunismo. A solução foi juntar os tijolos fragmentados do socialismo à argamassa do liberalismo. Sob a nova composição, a política abriu espaço para novas formas de contestação e novos polos de representação, hoje presentes na miríade de grupos, entidades e organizações sindicais. As clivagens partidárias do passado ganharam nova roupagem, na esteira do arrefecimento do antagonismo de classes e do enfraquecimento dos particularismos ideológicos. O desvanecimento dos mecanismos tradicionais da política - partidos, Parlamentos, ideologias, bases - e a criação de um novo triângulo do poder, juntando esfera política, burocracia governamental e círculos de negócios, fizeram emergir a era do eu, povoada por líderes e mandatários de todos os espectros, cada qual portando as vestimentas fosforescentes do Estado-espetáculo. Assim, o progressivo declínio das estruturas clássicas da política propiciou, em contraponto, um fluxo ascendente de personagens que passaram a ter visibilidade na onda midiática. A forma tornou-se mais importante que o conteúdo. São um exemplo nossas campanhas eleitorais, cheias de cosmética e centradas em fulanos, sicranos e beltranos. Pela importância da França na textura democrática, é razoável supor que o redesenho do discurso que ali se faz serve para espelhar o atual estado da política no mundo. A começar pela desconstrução que o presidente francês promoveu em sua identidade. Damon Mayaffre mostra que, na sua primeira campanha, Nicolas Sarkozy se identificou plenamente com o espírito da direita, puxando conceitos como moral, mérito, trabalho, esforço, civismo. Agora ataca as instituições da República, como Justiça, imprensa, sindicatos. No fundo, trata-se de um ataque a ele mesmo, eis que o presidente encarna o espírito republicano e, por consequência, seus corpos intermediários. Tal postura tinha lógica em 2007, quando se elegeu com o slogan da ruptura. Mas hoje esse ideário serve à família Le Pen (Marine e seu pai, Jean-Marie) e à Frente Nacional, beneficiários maiores do pleito francês. Formou-se o paradoxo: Sarkozy pregou o dissenso e Hollande defendeu o consenso, quando a lógica sugeria o contrário. O que podemos extrair da lição francesa para a nossa realidade? Os recados são claros. Vejamos. Ponto 1: não há mais sentido em brandir bordões e refrãos insuflando a luta de classes, pobres contra ricos, socialismo contra liberalismo. Parcela dos nossos representantes continua a erguer bandeiras rotas. Ponto 2: atacar as estruturas intermediárias da República - Parlamento, Judiciário, imprensa - é desconstruir o próprio edifício da democracia. Desvios cometidos por pessoas físicas não podem ser confundidos com a importância das instituições democráticas. No entanto, viceja por estas plagas uma peroração que defende o controle da mídia, a revelar a simpatia de grupos pelo Estado autoritário. Ponto 3: o combate às elites políticas por quem as integra soa demagógico. Mandatários que escalaram os degraus da pirâmide para chegar ao topo devem saber que também eles integram o Olimpo elitista. Ponto 4: é um risco ancorar a estabilidade de um governo numa base nacionalista e protecionista. A deriva populista que uma atitude nessa direção proporciona, apesar de gerar conforto no curto prazo, ameaça comprometer o conceito internacional de um país. Olhe-se para os casos da Argentina e da Bolívia. A decisão da presidente Cristina Kirchner de nacionalizar 51% do patrimônio da petrolífera YPF, controlada pela espanhola Repsol, e a decisão do presidente Evo Morales de expropriar as ações da rede elétrica espanhola SAU podem até servir à almejada estratégia de aprovação popular. Mas quem garante que, mais adiante, não se transformarão em bumerangue? Decisões dessa ordem têm o condão de conferir aos governantes uma imagem situada na banda esquerda do arco ideológico. Mas a esquerda tem sofrido, e muito, para debelar o caos econômico. A Europa que o diga. Ali a crise fez cair, nos últimos três anos, 11 dos 15 governos de esquerda ou de centro-esquerda - Espanha, Reino Unido, Portugal, Bulgária, Finlândia, Hungria, Irlanda, Letônia, Lituânia, Eslovênia e Holanda. O aviso é oportuno: medidas populistas têm fôlego curto. JORNALISTA, PROFESSOR TITULAR DA USP, CONSULTOR POLÍTICO DE COMUNICAÇÃO TWITTER: @GAUDTORQUATO

sábado, 1 de outubro de 2011

Ou a esquerda se entende, ou a direita organiza!

Os corvos e urubus da "esquerda"
Por Emir Sader, no sítio Carta Maior:

Repararam que tem gente, que se diz de esquerda, mas que só aparece para criticar a gente de esquerda? Nunca contra a direita, o que quer que esta faça. São especialistas em jogar álcool em qualquer foguinho dentro da esquerda.

Nunca reconhecem vitórias, conquistas, avanços. São apenas prenúncios de derrotas, traições, retornos da direita – cuja culpa será sempre denunciada como responsabilidade da esquerda. Adoram as derrotas, quanto maior, melhor, porque a culpa é dos outros, não importa que o povo seja quem pague o preco.

São ótimos para fazer balanços de derrotas, mas nunca sabem propor alternativas e nunca conseguem dirigir processo algum. São sempre críticos. Espécies de urubus, especialistas em carniças. Corvos, que auguram sempre catástrofes.

Não dá para ter respeito por alguém que se diz de esquerda, mas não está em todas as paradas da luta contra a direita. Aí ficam quietos, espreitando para atacar a esquerda, seja porque não é suficientemente radical, seja porque não derrotou de forma radical e definitiva a direita. Eles mesmos, não são capazes de afetar o poder da direita, nem estão centralmente preocupados com isso, lhes importa sobretudo as “traições” da esquerda.

Numa circunstância grave como a da Bolívia atualmente, por exemplo, colocam para fora o rancor com Evo Morales e sua liderança, como antes tiveram essa atitude contra Lula no Brasil. Todos “traíram”, incluídos Hugo Chaves, Rafael Correa, Pepe Mujica, os Kirchner, Fernando Lugo, Mauricio Funes, só eles são puros. Só que o povo não acha isso, de forma que essa gente nunca consegue formar movimentos populares com forte participação do povo, não dirigem nenhum processo, não conseguem citar um caso em que suas ideias levaram a vitórias e a avanços.

Não elogiam a reforma agrária, a nacionalização das minas, a Assembleia Constituinte postas em prática por Evo. Não apoiam as medidas de política externa soberana do Brasil, no reconhecimento da Palestina, na mediação do Irã, no apoio a Cuba. Só denúncias, porque seu universo não é a luta geral do povo, mas o universo restrito da esquerda. Não fazem luta de massas, só luta ideológica. Não constroem força política para que a esquerda avance, sempre tratam de dividir.

Os conflitos na esquerda, no campo popular, tem que ser discutidos e tratados como conflitos entre tendências de esquerda, mais moderadas ou mais radicais, sem desqualificações que caracterizem os outros como fora do campo da esquerda. Esta atitude é o primeiro passo que leva a assimilar outras tendências da esquerda à direita e assumir equidistância em relação a elas.

Numa situação de crise como a da Bolívia atualmente, tudo o que podemos desejar é que se chegue a um acordo político entre o governo e setores do movimento indígena que estão em enfrentamento aberto. Nem o governo é de direita, nem os movimentos indígenas fazem o jogo da direita. É nesse marco que devemos almejar que sejam enfrentados os conflitos.

Como no Brasil, deve-se criticar o governo e o PT no que se diverge, e apoiar nos pontos comuns. Fazer frente única no que há de comum, a começar na luta contra a direita. E criticar naquilo em que ha divergências. Considerando que são diferenças no campo da esquerda e não é possível equidistância entre o governo e a oposição, o PT e a direita.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sobre a Liberdade de Imprensa, por Karl Marx

"A Censura não elimina a luta, tonar-a unilateral; ela transforma a luta aberta em luta secreta e faz da luta de princípios uma luta dos princípios sem força contra a força sem princípios.

A verdadeira censura, a que tem suas raízes na verdadeira essência da liberdade de imprensa, é a crítica. Esta é o tribunal que a liberdade engendra dentro de si mesma."

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Difusão da produção cultural e Nova ministra da Cultura

Em tempo, de um debate que quase fritou a nova ministra, Ana Hollanda, irmã do compositor e escritor Chico Buarque, filha do Sérgio Buarque, nada menos que de Hollanda também, trago este texto retirado do Blog Amigos do Presidente Lula (http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com), postado por Zé Augusto, um Zé que não conhece, não tão famoso e de pai desconhecido, que trata do alerta e fogueira que se acendou com a retirada do selo Creative Commons do site do Ministério da Cultura, traz o debate a evidência, esclarece muitos pontos, e se posiciona do espaço da política de incentivo a produção de Arte e difusão da cultura em nosso país. Muito bom, e boa leitura!


Ministério da Cultura e Creative Commons: muito barulho por nada

A ministra da Cultura, Ana Hollanda, enfrentou (e ainda enfrenta) a ira de muita gente boa, pela simples troca do selo "Creative Commons" das páginas na internet do Ministério pela mensagem "Licença de Uso: O conteúdo deste site, produzido pelo Ministério da Cultura, pode ser reproduzido, desde que citada a fonte".

Na prática trocou 6 por meia-dúzia, ou seja, continua tudo como antes.

Quem quiser reproduzir textos, notícias, entrevistas, vídeos, áudio e fotos do site feitos pelo Ministério da Cultura podia fazê-lo com a licença "Creative Commons" e continua podendo fazer agora do mesmo jeito, sem qualquer risco de violar direitos autorais, porque está explicitamente autorizado.

A polêmica foi criada por uma confusão da militância contrária ao tratamento draconiano, não do ministério, mas de alguns detentores de direitos autorais contra quem copia ou reproduz para uso próprio, sem fins comerciais, sobretudo na internet.

Essa militância chegou até a acusar a ministra de estar se submetendo ao lobby do ECAD (entidade que arrecada direitos autorais).

Ora, quem detém direitos autorais são os autores das obras ou a quem eles cedem. O Ministério em si, não é autor de música, nem de filmes, nem de quadros artísticos. Não detém direito autoral nenhum sobre praticamente nenhuma obra, por isso a licença "Creative Commons", por mais que seja juridicamente bem feita, não faz diferença nenhuma no que diz respeito ao conteúdo do site produzido pelo ministério.

A não ser que alguém imagine que reproduzir os textos, fotos e vídeos com notícias, entrevistas e comunicados produzidos pela assessoria de imprensa e por funcionários do ministério dirigidos ao público, possam vir a ser alvo de processos pelo ministério, e sofrer cobranças do ECAD. Seria muita paranóia, e sem motivo, pois no site há frase autorizado explicitamente a cópia e reprodução.

No mais, não cabe ao ministério determinar como cada autor que existe no Brasil quer licenciar sua própria obra, a não ser que o ministério a esteja patrocinando diretamente dentro de algum programa que tenha regras de licenciamento.

Cada autor pode licenciar sua obra por uma das licenças padronizadas da "Creative Commons", se desejar, ou criar sua própria licença de acordo com as leis brasileiras. Ou tomar a medida antipática de "trancar" sua obra com todos os direitos reservados.

A militância pelo domínio público do conhecimento e acesso à cultura e arte é legítima e merece todo apoio. É absurdo leis draconianas que punem até com prisão quem copia ou reproduz para uso pessoal ou para socializar uma informação, sem finalidade comercial. É absurdo também o ECAD querer cobrar até de artistas amadores de rua, que tocam uma música em troco de uma moeda.

Mas também é legítimo que um compositor/cantor seja remunerado pela TV Globo quando sua música é explorada comercialmente na trilha sonora de uma novela, por exemplo.

Nesta quinta-feira, das 8 às 9hs, a ministra Ana de Hollanda concede entrevista coletiva ao vivo no programa de radio "Bom Dia, Ministro". Na pauta, Vale-Cultura, Praças do PAC, Economia Criativa. A polêmica deve ser esvaziada com os esclarecimentos.

Mais importante do que esse protesto sem causa, é rever algumas decisões do ministério. Os ex-ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira fizeram um excelente trabalho. O saldo dos dois é amplamente positivo. Mas como nem tudo pode ser perfeito, o segundo patrocínio via incentivos fiscais para digitalização do acervo documental pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso deveria ser revisto e vetado. Não se trata de perseguir o ex-presidente. O motivo é que ele não prestou contas ainda do dinheiro do primeiro patrocínio, que sofreu atrasos e há fortes dúvidas se cumpriu, com as verbas recebidas, o que foi proposto. Tem tudo para acabar em escândalo no Ministério Público.

Outro incentivo que mereceria revisão e veto é ao Rock'in'Rio. A última edição do festival no Brasil até teve alto valor cultural, trazendo artistas valorosos (e pouco conhecidos) dos 5 continentes para tocar em tendas temáticas, paralelas ao palco principal. Mas a questão é que trata-se de um evento totalmente viável comercialmente e lucrativo, com diversas atrações estrangeiras, não precisando de nenhum fomento cultural pelo governo brasileiro. O ingresso por noite custará R$ 190,00, e tudo com "copyright", inclusive direitos de transmissão pela TV.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Em tempo de Aumento no preço das Passagens!

Retirado do http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-custo-social-da-precarizacao-do-transporte-urbano?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

O custo social da precarização do transporte urbano
Enviado por luisnassif, qui, 20/01/2011 - 10:34
Por Neves

O custo social da precarização dos transportes urbanos é imenso. As classes médias e abastadas pensam que a coisa não é com elas. Não se comovem com o povão espremido como sardinha na lata, transportado aos solavancos como gado, preferem a fuga individual. Não basta mais o carro da família, é necessário agora o segundo, o terceiro, o quarto carro... conforme a garotada atinja a maioridade e tenha que se deslocar para a faculdade e as baladas. Os muito ricos escapam de helicóptero. Brasileiro abastado ou remediado só anda a pé ou em coletivos na cidade, quando está no exterior; por aqui pesa um certo sangue azul, de quem se sente mal junto ao populacho dentro do busão - ah, o cheiro do povo! - há uma memória atávica das liteiras, dos tempos coloniais.

Eles pagam o custo direto, multiplicado por cada veículo, dos financiamentos, da gasolina, da manutenção, dos seguros, do estacionamento, do flanelinha, do IPVA, da indústria da multa e da propina. Parou aí? Não, tem mais. Eles percebem que o apartamento espaçoso herdado dos pais é do tempo que havia um carro por família, uma garagem; a degradação recente das cidades, principalmente dos equipamentos de transporte coletivo, criou a "necessidade" do mínimo de três por família; são tangidos para mudarem para os novos e carésimos apartamentos-cafuas, com área "útil" engordada pelas três garagens, o conforto do carro vale mais. Mas ainda não acabou. Uma cidade atrolhada de carros "precisa" de muitas obras para garantir os custos de campanha de prefeitos e verroedores, com as devidas sobras de campanha, é claro. E toma de viadutos, pontes, túneis, alargamento de avenidas, todos os apetrechos do rodoviarismo urbano, que tem por finalidade, encurtar a distância entre um engarrafamento e outro; a conta descarrega no IPTU.

E o custo da aporrinhação? Desde as formalidades burocráticas do DETRAN aos engarrafamentos; da poluição diuturnamente inalada e das horas intermináveis perdidas no trânsito; da vida que esvai na observação tediosa da mesma paisagem urbana, sob a tensão nervosa da ansiedade, a Lesma Lerda, a imagem do motorista que arrasta sua concha, a extensão de sua casa.
Até cidades de tamanho médio no interior do Brasil convivem com engarrafamentos, sem qualquer esperança de que um dia o trânsito melhore. Nada melhora quando a prioridade urbana é ofertada ao automóvel como meio de transporte, ele tem de voltar a ser o que aparece nos papéis oficiais: veículo de passeio, para o lazer como regra e transporte como exceção. Não podemos fazer as cidades escravas de obras dedicadas ao rodoviarismo urbano, nenhuma resolve, apenas cria necessidade de outra, é pura ilusão malandramente aproveitada por demagogos. O que diminui engarrafamentos é transporte coletivo eficiente, combinado com restrições ao uso do automóvel nos centros urbanos; é assim que funciona em cidades mais civilzadas do que as nossas.

O transporte coletivo é uma tragédia nacional. O modelo está falido como propósito social, serve apenas aos empresários e agentes públicos envolvidos na mamata; é um monumento de irracionalidade, atraso de vida e desperdício de recursos. Pagamos preço demasiado alto pela omissão do assunto no centro das questões nacionais. O Congresso e as autoridades federais fingem que, um problema que afeta dezenas de milhoes de brasileiros em várias cidades é um problema municipal. Urge que se investigue a questão na esfera federal e apresentem uma proposta de soluções e correções.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Ciência e Desenvolvimento da Província!!!

Retirado do http://carloslinneu.blog.uol.com.br/arch2011-01-16_2011-01-22.html

20/01/2011

O caso Nicolelis e a atração de investimentos

No Rio Grande do Norte, as crianças das escolas públicas não são mais afligidas pela subnutrição ou pelas deficiências de ensino. A desgraça agora é o bulling, mais um desses modismos que aterrisam na província, distribui seu charme para quem a pronuncia e está ocupando a atenção de 11 diretores de escolas em cada 10. Fome? Problema muito sem graça.

O caso Nicolelis é bem parecido. Como as ondas do mar, a penosa travessia do cientista em busca de uns palmos de calçamento emerge e submerge, não faltando os oportunistas de plantão, que como os parasitas, se acoplam ao charme do assunto em busca de notoriedade. Nada mais noblesse oblige do que aparecer no twitter defendendo o grande cientista. Mas a intenção é apenas essa: caronear prestígio.

Mas o assunto é de extrema importância para o Rio Grande do Norte e não somente pelos ensino científico que o instituto ministrará para crianças.

O Instituto de Neurociências de Natal está inserindo Natal no mapa da Ciência e o signficado disso tudo é que poderá resultar em inúmeros desdobramentos no desenvolvimento tecnológico do Estado, perspectivas futuras não percebidas pelos governamentes e talvez pelo próprio cientista.

O desenvolvimento de qualquer tipo de tecnologia, por mais específica que seja, está imerso em um sistema maior, formado de vários outros subsistemas com quem têm faces comuns. Quando o doutor Nicolelis foi entrevistado em sua primeira visita ao Estado, explicou que havia optado pelo Rio Grande do Norte porque aqui a UFRN há um dos melhores criatórios de primatas que conhece, importantíssimos nas pesquisas do então futuro Instituto de Neurociências. Ou seja, o laboratório de primatas tem faces comuns com outras áreas e terminou por atrair um importantíssimo investimento privado de natureza científica.

Moro no RN desde 1980. Ouvi falar em Pólo Têxtil, Pólo Cerâmico, Pólo Metal-Químico, Pólo Gás-Sal, meras ficções eleitoreiras. Nicolelis está construindo a semente do que poderá ser o mais importante dos pólos, desde que seja apoiado por algo um pouco mais além do que um caminhão de brita: um Pólo de Conhecimento, rico em faces comuns com outras áreas tecnológicas, inclusive industriais, capaz de gerar um círculo de causação mutuamente virtuoso, em que investimentos atraem outros investimentos.

Eis um assunto que deveria despertar a atenção do baiano Benito Gama, Secretário de Desenvolvimento Econômico. Que seja solicitado ao doutor Nicolelis a explicitação formal de todos os projetos e que se marche para Brasília.