segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Em defesa do avanço...

Estado, governo, partidos, democracia

Publicado no Blog do Emir

O Estado brasileiro é mais forte porque mais democrático.

A campanha eleitoral da oposição - tendo sua comissão de frente nas empresas privadas da mídia - concentra seu foco de supostas denúncias em um tema central: o governo confundiria o Estado com o governo, apropriando-se do Estado em função dos partidos que o apóiam. O jornal da família Frias chegou a colocar como manchete na sua primeira página que “O governo se reserva tal porcentagem do pré-sal”, como se se tratasse de uma apropriação por parte de governo de receitas de um projeto de enorme transcendência, que mobiliza grande quantidade de recursos, para seu proveito, em lugar de fazê-lo para o Estado brasileiro.


Confusão faz essa imprensa despreparada teoóricamente e mesquinha politicamente, ao não se dar conta de como os destinos do Estado brasileiro estão em jogo na repartição dos recursos do pré-sal, não se tratando apenas de um problema de um governo de turno. Mas quando se trata de manter de pé campanha sistemática de acusações a um governo que, apesar disso ou talvez até mesmo também por isso, goza de mais de 80% de apoio da população, vale de tudo, pelo próprio desespero de não ver refletir nas pesquisas de opinião, o tempo, os espaços e o papel gasto na até aqui inglória luta contra o governo.


Para começar: o Estado brasileiro, no governo Lula, é muito mais democrático do que antes, em qualquer outro governo. Em primeiro lugar, porque atende as reivindicações de um numero incomparavelmente maior de pessoas do que qualquer outro governo. Atende seus direitos a emprego formal, a acesso a bens fundamentais, a escola, a habitação, a saneamento básico, a créditos, a energia elétrica, entre outros direitos elementares, mas que foram sempre negados à maioria da população.


Como conseqüência, o Estado integra a setores majoritários do povo, que nunca antes tinham se sentido participantes do Estado, do que é expressão o fato de mais de 80% da população apoiar o governo, não ocasionalmente, no momento de um plano econômico qualquer – como em momentos do Plano Cruzado do governo Sarney ou do Plano Real do governo FHC – mas estavelmente, no sétimo ano do governo, quando FHC tinha apenas 18% de apoio e Sarney algo similar.


O Estado dispõe de mais pessoal e mais qualificado, melhor remunerado, depois de ter passado pela sua demonização, pela desqualificação do servidor público e diminuição pelas políticas de Estado mínimo do governo da tucanalhada-demoníaca.


As empresas estatais são mais fortes e mais eficientes hoje. Tome-se o exemplo da Petrobrás no governo atual, em comparação com ao que tinha sido reduzida – “Petrobrax” – no governo FHC. Os levantamentos do IPEA revelam como o serviço publico é mais eficiente que as empresas privadas, como mostra da melhoria do Estado no governo atual.


A diminuição significativa do superávit fiscal, o freio nos processos de privatização – que previam a privatização da Petrobras, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, da Eletrobras, nos acordos assinados com o FMI na última das três crises com que o governo FHC vitimizou o Brasil fortaleceram o Estado.


Ao contrário dos governos tucanos, como o de Serra, que seguiu adiante as privatizações e, não fosse o Banco do Brasil ter comprado a Nossa Caixa, a teria vendido ao capital privado, como os tucanos tinham feito com o Banespa vendido a um banco estrangeiro, o Santander.


O Estado brasileiro é muito mais forte, porque muito mais respeitado no exterior, tanto na América Latina, como no conjunto do mundo, como se vê pelo prestígio de Lula, em comparação com a penosa imagem projetada por FHC e seus tristes ministros de Relações Exteriores.


O Estado é mais forte porque recuperou sua capacidade de indução do crescimento econômico, como se viu muito claramente na capacidade do governo e dos bancos públicos de promover a recuperação econômica do país na atual crise, muito maior do que qualquer uma que o governo FHC tenha vivido e, no entanto, o Brasil sai dela mais forte, ao contrário das anteriores, em que – como no caso da crise de 1999 – o país saiu enfraquecido – com as taxas de juros próximas de 50%, com o desemprego em níveis altíssimos, com um descontrole inflacionário, com um aumento exponencial da divida pública, com uma recessão de que somente o governo Lula pôde fazer com que saíssemos da crise.


O Estado é mais forte justamente porque o governo não confundiu governo e Estado. O governo é um instrumento de fortalecimento do Estado, mediante políticas de interesse nacional – como as políticas sociais, educativas, culturais, econômicas, a política externa independente, entre tantas outras – e não para atender interesses privados – como as escandalosas privatizações de FHC, que dilapidaram o patrimônio público ou como a privataria educacional que promoveu as faculdades e universidades privadas em detrimento da educação publica, universal e gratuita.


O Estado é mais forte, porque arrecada mais e melhor, canalizando recursos para o crescimento econômico e as políticas sociais. Porque diminuiu as taxas de juros, diminuindo a remuneração ao capital especulativo e a transferência de renda ao capital financeiro.


Assim, o Estado brasileiro é mais forte, não porque menos democrático, mas porque muito mais democrático, mais integrador, mais provedor de direitos, mais reconhecido no exterior e dentro do Brasil.


O Estado governa com os partidos que apóiam o governo Lula, um governo submetido pelos dois maiores plebiscitos públicos – as eleições de 2002 e 2006 -, em que, mesmo tendo a ditadura das empresas privadas da mídia contra, contou com o imenso apoio popular, que só cresceu desde então. Governa, portanto, com a delegação da grande maioria do povo. A oposição queria que ele governasse, como no governo FHC, com representantes diretos do grande capital, dos bancos, das corporações privadas, da mídia oligárquica, do capital estrangeiro.


Os governos estaduais dos outros partidos – como o de Olívio Dutra no Rio Grande do Sul – foram sistematicamente sabotados pelo governo FHC, ao contrário do governo Lula, que compartilha os recursos federais com governos da oposição, como os governos tucanos de São Paulo e de Minas Gerais, com governadores pré-candidatos à presidência pela oposição ao governo.


O Estado é mais forte no Brasil no governo Lula, a democracia é mais forte, porque o governo as promove como seus objetivos centrais. Passado o circo midiático, fica claro que foram os tucanalhas-demoníacos, que debilitaram o papel de controle tributário, favorecendo a sonegação fiscal como nunca no Brasil.


Um Estado forte é um Estado democrático, reconhecido e apoiado pela grande maioria da população. É um Estado que implementa políticas de caráter nacional, de interesse público, promovendo a prioridade das questões sociais e não a ditadura econômico-financeira de Malan-FHC-Serra.


O Brasil precisa ser mais democrático e não menos, como quer a oposição, adepta do Estado mínimo e dos cortes dos direitos sociais. O Brasil precisa reformar profundamente o Estado, não como quer a oposição, para deixar mais espaços para o mercado, mas para torná-lo efetivamente um Estado de todos e para todos.

Poemas para todos os momentos...

Se cada dia cai

Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

Pablo Neruda (Últimos Poemas)

domingo, 30 de agosto de 2009

Por um destino que nos guie...

Hoje, há 30 anos: a Anistia inconclusa


O belo edifício que abriga o Arquivo Nacional, no Campo de Santana, no Rio, recebeu um expressivo grupo de pessoas, vindas de diferentes regiões do país, no último dia 22 de agosto, para marcar a data da aprovação da Lei 6.683/79. A lei que concedeu Anistia aos perseguidos políticos e produziu uma excrescência jurídica: os denominados “crimes conexos”. Essa pérola de criatividade terá brotado da cabeça de algum rábula que se movimentava nas dobras do arbítrio e foi oferecida ao último ditador, para assegurar a impunidade aos torturadores que serviram durante anos ao Regime. Desde então essa sombra se projeta sobre a memória do país.

Trinta anos depois, ouvimos no pátio interno do Arquivo Nacional a palavra da sociedade, dos familiares dos mortos e desaparecidos políticos e, pela boca do Ministro da Justiça, Tarso Genro, a palavra do Estado brasileiro. A alguns dos argumentos levantados, com brilho, pelo Ministro da Justiça, quero agregar outros.

“Terá havido um pacto para que se aprovasse a Lei de Anistia?” Os pactos supõem igualdade de condições. Em 1979, a sociedade brasileira ensaiava os primeiros passos para recobrar sua força e sua relevância depois de dez anos de terror. O único pacto possível era entre a corda e o pescoço... Não houve pacto. Houve a imposição do édito de um regime que antevia sua derrota e tratava de chegar a tempo de salvar a pele dos seus verdugos. Esse argumento é uma fraude.

“Não podemos reabrir feridas”, dizem os que defendem a impunidade. Cabem duas perguntas: “Quem foi ferido”? E “Essas feridas foram fechadas”? Quem prestará contas pela tortura dos opositores políticos, convertida em método rotineiro de interrogatórios? Pelos assassinatos, pelos desaparecimentos, pelas tentativas de fuga, pelos atropelamentos, pelos suicídios? Em uma frase, os defensores da tese de apagar a memória, nos convidam alegremente: vamos esquecer toda a brutalidade que nós cometemos contra vocês... e nós os perdoaremos por isso.”

“São revanchistas aqueles que desejam rever a lei da Anistia, abrir todos os arquivos”. Nós, que defendemos a abertura de todos os arquivos e julgamento dos torturadores, não defendemos que eles sejam torturados. Somos contra a tortura. Reivindicamos com a sociedade brasileira que eles sejam processados e julgados. Como foram processados, julgados e condenados, os que se levantaram contra o regime. Não somos, portanto, revanchistas.

“A Anistia foi recíproca”. Aqui recorro ao argumento da advogada Eny Raimundo Moreira, defensora de presos políticos e ex-presidente do Comitê Brasileiro pela Anistia, do Rio de Janeiro: só quem foi processado e condenado por algum delito pode ser anistiado. Nenhum torturador, nenhum delegado de polícia acusado pelo crime de tortura de presos políticos foi levado a qualquer tribunal por essa razão, no Brasil. Infelizmente.

Por fim, não é demais lembrar, a propósito dos trinta anos da publicação da Lei 6.683 de 28 de agosto de 1979, a afirmação do Dr. Marco Antônio Rodrigues Barbosa: “A tortura é um crime hediondo, não é ato político nem contingência histórica e afeta toda a humanidade, na medida em que a condição humana é violentada na pessoa submetida a esse crime. Quando alguém é torturado, somos todos atingidos duplamente: em nossa humanidade e em nossa cidadania. A prática da tortura é inaceitável e seus executores deverão ser punidos a qualquer tempo.”

A democracia brasileira deve a si mesma esse exercício de compreender e incorporar os anos da Ditadura Militar, com as perseguições, a brutalidade, a delação, o medo, a tortura, os assassinatos, os desaparecimentos de perseguidos políticos, o exílio, o rosário de horrores perpetrados pelo estado ditatorial à exata dimensão histórica que lhe cabe: uma realidade incontestável que deitará sua sombra sobre a face futura do Brasil, até que seja resgatada.

Pedro Tierra é poeta. Autor do livro Poemas do Povo da Noite, escrito na prisão e reeditado pela Editora da Fundação Perseu Abramo e Editora Publ!sher Brasil, por ocasião dos 30 anos da Anistia.

Por um destino que nos guie...


Democracia e Memória Histórica

A sucessão de regimes repressivos na América Latina ainda não foi tratada de forma sistemática pelos regimes democráticos vigentes. É perceptível todo um manto ideológico que se ocupa em promover um trabalho persistente de desmoralização dos ideais da esquerda, com a tentativa de anulação do valor humano e político daqueles que resistiram e, por isso, foram perseguidos, mortos ou torturados.

Há uma ideologização direitista da memória que, na verdade, impede um pacto de conciliação, porque o impõe a partir dos valores que são aceitos exclusivamente pelos que eram beneficiários do autoritarismo. A memória imposta quer cristalizar os valores da dominação do Estado de Exceção.

Isso ocorre também na narrativa que justifica o Golpe de 1964, como simples reação ao um suposto estado de “caos e desgoverno político” vigente, ameaçador da propriedade privada, das liberdades públicas, dos valores da família, sintetizando tudo no combate à “ameaça comunista”. Nesta visão, a história somente pode ser contada de uma única maneira: a de que o regime ditatorial foi uma etapa de paz civil e avanços econômicos onde se localiza as bases da ordem e da democracia atual. Tenta fixar-se um pacto de silêncio, sob a falácia de que não se deve olhar para o passado e abrir as suas feridas. Há um uso político da memória para coincidí-la com a hermenêutica dos dominadores da época e isto, em verdade, constitui-se em uma não-memória, pois impede desvelar o tipo de ordem jurídica e política que instrumentalizou os homens para transformá-los em máquinas de destruição dos seus semelhantes, fazendos-os retroceder ao estágio de uma sociedade sem contrato e transformação de monopólio estatal do uso legítimo da força (conquista da modernidade democrática) para uma repressão instrumental de dominação pela coerção. A história dominante, já dizia Walter Benjamin[1], fecha-se em uma lógica linear que pisoteia os perseguidos, que os ignora sob o cortejo triunfante do progresso.

É preciso uma ação política que permita emergir a dor e as injustiças esquecidas. A experiência traumática só se supera a partir de um exercício do luto, que como lembra Paul Ricoeur[2], é o mesmo exercício da memória: paciente, afetivo, destemido e perigoso, pois revela que nossa sociedade hoje se estrutura sobre os cadáveres dos “esquecidos”. Somente no trabalho de rememoração que podemos construir uma identidade que tenha lugar na história e não uma que possa ser fabricada por qualquer instante ou ser escolhida a esmo a partir de impulsos superficiais. Trata-se, de fato, de um dever de memória, um dever que exige disposição e vontade: uma vontade política imprescindível para que haja um abrangente apaziguamento social e também por uma questão de justiça às vítimas que caíram pelo caminho[3].

Para atingir estes objetivos, muitas nações utilizam-se as políticas de Justiça de Transição, a qual um dos eixos é o de uma intervenção educativa desde e para os direitos humanos, bem como a criação de memoriais. O Governo Lula acaba de lançar o “Memórias Reveladas” e o “Memorial da Anistia Política”, promovidos pela Casa Civil, Secretaria Especial de Direitos Humanos e Ministério da Justiça, este último em parceria com a UFMG. Um, retratando os arquivos oficiais da ditadura, e o outro o arquivo com as histórias relatadas por parte dos perseguidos políticos. São medidas capazes de ressignificar a história do país e aumentar a consciência moral sobre o abuso do passado, com o fim de construir e invocar a idéia da “não-repetição”.

Tarso Genro é ministro da Justiça
Paulo Abrão é presidente da Comissão de Anistia



[1] BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: Magia e técnica, arte e política – ensaios sobre literatura e história da cultura – Obras escolhidas I. 7.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

[2] RICOEUR, Paul. História, memória e esquecimento. Campinas: Unicamp, 2008.

[3] MATE, Reyes. Memórias de Auschwitz – atualidade e política. São Leopoldo: Nova Harmonia, 2005.

Poemas para todos os momentos...

São partículas atômicas, mas a dimensão de sua explosão tão pouco ainda pôde ser medida... - talvez um dia eu me acostume com a escrita!

uma boa medida do que se espera:

"Para entender nós temos dois caminhos:
[o da sensibilidade que é o entendimento
do corpo;
e o da inteligência que é o entendimento
do espírito.
Eu escrevo com o corpo.
Poesia não é para compreender,
[mas para incorporar.
Entender é parede; procure ser árvore."

Manoel de Barros

Poemas para todos os momentos...

Não Discuto


não discuto
com o destino

o que pintar
eu assino

Paulo Leminski

Dia-a-dia!

E o pré-sal?


Neste período de muito debate no meio político e empresarial sobre o destino dos dividendos desta fortuna encontrada, muitos preferem que este recurso venha para os seus bolsos, de modo direto e restrito, já outros preferem a possível a disseminação por via da socialização desta riqueza: um debate interessantíssimo. Hoje, são com vários sujeitos preocupados com o futuro que nos esbarramos. Isto nos deixa muito contentes. Darcy Ribeiro nos falava da importância de se inventar o Brasil que queremos. É necessário mais do que a lembrança de um passado, é importante desejar um futuro.


Um desses sujeitos me aparece e pergunta:


- Como será a disseminação libidinal quando depois da perfuração do pré-sal?


- ih...


Fiquei preocupado! Pois se as imagens tornam-se símbolos e estruturam consciências, tive lembranças dos movimentos nos meus carnaubais, das águas térmicas do nosso país, das pendências que até hoje tornam dúvidas a lembrança de uma juventude, e um passado recente, meio levado e pervertido, que foi do sertão de vale rico, através de grande rio rígido, até as beiras de água de maré, por onde seguia sereias, e caminho de dentro e fora, e fora e dentro, de gemido sussurrado, de desenvolvimento íntimo, e de tão íntimo, por ora tão violento, fazia o feminino nem vê o firmamento. Parecia obrigação de corruptela.


- arh... ahh... Ó horizonte visto do meu cais, tu estás tão próximo... E eu continuo a procurar, e não encontro desejo mais fecundo do que te penetrar intensamente, mas... não mais de modo momentâneo e esporádico. Eu quero a liberdade de gozar em ti, de ti sentir melada do meu gozo, e não somente te fuder. Espero poder gozar mais.


Sejam Bem-Vindos!

Olá pessoas de todas as espécies,

Estou construindo este espaço para expor algumas idéias, compartilhar angústias e alicerçar alguns sonhos. Espero ver vocês sempre por aqui, e a maneira mais didática de perceber esta esperança sendo materializada é com a participação de vocês neste espaço.

Sejam Bem-vindos,

Dennys Lucas, o Lucas.