segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Luto

Hoje é o Dia das Crianças. É o dia em que celebramos a inocência, a ingenuidade, o lúdico, o presente de possibilidades, mas também é o dia em que nos nutrimos de esperança. E foi com este espírito que convidei minha irmã, de 12 anos, para passar a semana comigo. Para que eu me reoxigenasse de esperança e motivação.

Ontem, agora pouco, decidi buscar meu irmão, que estava terminando mais uma jornada de jogos de xadrez, para levá-lo junto com minha irmã e uma prima a uma pizzaria em Natal, e de lá quando cheguei me reservei em meu quarto, onde fui assistir a um filme antigo, e que há muito estava guardado entre meus DVD's. O filme era A Noite do Lápis, filme argentino que conta este episódio da ditadura militar argentina, no qual vários estudantes, líderes juvenis, são presos e torturados. Entre as cenas, muita doçura misturada com crueldade, ingenuidade misturada com esperança...

Após o filme recebo a notícia e o motivo desta postagem: morre Oiran. Oiran era anarquista, militante do Movimento Passe-Livre, sempre chegava às reuniões na sua bicicleta. Militante ativo, fazia suas atividades independente de deliberações e processos maiores, queria ver acontecer. Sonho que tinha em um sistema não-opressor. Percorria a cidade na sua bicicleta, não somente pela necessidade, mas para propagandear um outro modo de vida que fizéssemos tomar medidas mais sustentáveis de sociedade, e para isto utilizava o próprio corpo, e este era sua arma e foi parte de sua vida.

Morre Oiran, vive a necessidade de se continuar lutando por uma mobilidade urbana mais justa e solidária, que torne viável e sustentável o deslocamento, para que nossa sociedade possa sonhar com um mundo sem barreiras e impedimentos, na qual querer chegar no horizonte que se enxerga não seja uma utopia, mas um desejo de vivenciar a existência possível.

Oiran parecia perceber os horizontes e as muitas amarras, mas, mesmo assim ou por isto mesmo, decidiu quebrar correntes, só que em uma destas não pôde mais voltar, seu destino é o mesmo a que somos determinados. Alguns escolhem o caminho mais fácil, outros continuam a sonhar e construir as condições para que todos possamos provar do horizonte que nos é apresentado. Fica viva a luta do companheiro Oiran! Fica viva a luta dos jovens assassinados no Regime Militar Argentino! Fica vivo o sonho dos ingênuos, assim como a esperança dos inocentes! A ciranda não pode parar...

Oiran estará sempre presente na roda, entre aqueles que constroem um mundo mais justo!

Oiran faleceu quando retornava de viagem em sua bicicleta.


Dennys Lucas

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